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Escolas ainda promovem "vestibulinho"
Aplicação de prova para a primeira série para avaliar alunos contraria resolução do Conselho Nacional de Educação
Órgão considera a prática, criticada por educadores, discriminatória; colégios defendem teste como a forma mais justa de seleção
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Escolas particulares de São
Paulo continuam fazendo provas para a admissão de alunos
da primeira série, contrariando
resolução do Conselho Nacional de Educação de 2003.
Algumas usam artimanhas
para driblar a norma, fazendo
testes nos chamados "dia de vivência", que acontecem antes
da matrícula. Outras passaram
a aplicar o exame na segunda
série, aproveitando a mudança
do ensino fundamental de oito
para nove anos (no qual a segunda série, nas escolas que
adotarem o novo esquema, vai
equivaler à atual primeira).
Os "vestibulinhos" são criticados por educadores. Segundo
eles, esses testes assustam as
crianças e podem até causar
traumas na vida escolar futura.
Muitos colégios defendem o
sistema alegando que é uma
forma mais justa.
Em setembro, o Colégio
Franciscano Nossa Senhora
Aparecida (zona sul de SP), foi
notificado pela diretoria de ensino por ter feito teste para a
primeira série. "Levei meu filho até a escola para a prova e lá
o separaram de mim. Ele ficou
em uma sala minúscula fazendo uma prova, mas como é muito tímido, travou. Ele se assustou e começou a chorar", diz a
advogada Thaís Clara Martins
de Almeida Prado, 45. Seu filho,
de seis anos, concorria a uma
das 75 vagas do período da tarde, disputada por mais de cem
crianças. "A freira questionou
se ele sempre se comportava
daquela forma e disse que
aquela não era a melhor escola
para ele." Thaís denunciou o
colégio à diretoria de ensino.
Na Escola Móbile, também
na zona sul, antes da matrícula
os pais pagam uma taxa para o
"dia de vivência" -no qual as
crianças conhecem as dependências e os professores.
No meio da tarde, porém,
sem aviso prévio, as crianças
têm de fazer "lições" de avaliação. Quem não vai bem não é
chamado para matrícula. Neste
ano, cem alunos disputaram 30
vagas. A direção da escola confirma que as crianças são avaliadas, mas diz que não ocorre
seleção -pais de crianças que
apresentaram muita dificuldade são orientados a procurar
uma escola mais apropriada ao
filho. Neste ano, foram três casos. Após o teste, se o número
de aprovados for maior que o
de vagas, há um sorteio.
No Lourenço Castanho (zona sul de SP), a prova para a primeira série ocorreu na sexta. A
escola diz que o exame não é
classificatório, mas ele foi feito
antes da matrícula. "Se não é
para "barrar" o aluno, a prova
deve ser feita após a matrícula",
diz a procuradora da República,
Eugênia Fávero. Silvia Meira,
que levou o filho Rodolpho, 6,
para fazer o teste no Lourenço
Castanho, aprovou a adoção da
prática. "É uma maneira de a
escola conhecer o estudante."
Em 2005, após uma disputa
entre os conselhos nacional e
estadual da Educação para ver
quem deveria regulamentar o
assunto, a Justiça paulista decidiu proibir os exames para a
primeira série do ensino fundamental, após o Ministério Público acionar três escolas. "Temos uma norma do Conselho
Nacional da Educação e uma
jurisprudência que proíbem este tipo de seleção por ser discriminatório", diz Eugênia.
Alvos de ações na Justiça em
2005, os colégios Santa Cruz,
Porto Seguro e Nossa Senhora
das Graças tiveram de modificar os processos de admissão
neste ano. O Santa Cruz optou
por não aceitar novos alunos
para a primeira série de 2007.
Só fará o curso quem já estiver
na educação infantil do colégio.
O Nossa Senhora das Graças
decidiu preencher as vagas pelo
critério de idade: primeiro são
chamados os mais velhos. Já o
Porto Seguro não respondeu à
Folha. Os colégios entraram
com recurso na Justiça.
Com VINICIUS ABBATE, colaboração para a
Folha
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