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Deficientes usam academias improvisadas
Principais redes de São Paulo que recebem clientes com deficiência ainda estão se adaptando à lei de acessibilidade
Usuários dizem que falta também informação; alunos não precisam de locais especiais e não pagam mais para praticar esportes
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Deficientes físicos não precisam de locais especializados
para praticar esportes, mas
nem todas as academias da cidade de São Paulo estão preparadas para recebê-los, segundo
levantamento feito pela Folha.
Todos os estabelecimentos
de uso coletivo são obrigados a
instalar rampas, reservar vagas
de estacionamento e adaptar
banheiros, entre outras medidas determinadas por lei federal. O cumprimento da norma,
no entanto, não é unânime entre as principais academias.
Focada no público feminino,
a Curves diz que seu roteiro de
exercícios não é adaptado a
pessoas com dificuldades de
mobilidade. Já a Runner afirma, por meio de sua assessoria,
que está reformando suas unidades para torná-las acessíveis.
Outras redes são freqüentadas por deficientes, mas não
estão totalmente adaptadas. As
três unidades da Competition
em São Paulo têm alunos nessa
condição, mas apenas a da Paulista possui acesso livre de degraus. Na Oscar Freire, uma
nadadora cadeirante precisa do
auxílio de funcionários para
subir as escadas até a entrada.
Mesmo sem oferecer programas específicos, algumas academias de São Paulo já se dizem aptas a receber qualquer
freqüentador. A unidade Jardins da Fórmula, no shopping
Eldorado, atende a 38 pessoas
com deficiência, muitas em
convênio com as ONGs Projeto
Próximo Passo e Bombelêla.
Quem não é encaminhado
por nenhuma associação não
paga mais caro em nenhuma
das academias consultadas. Na
Fórmula, inclusive, os deficientes têm cerca de 35% de desconto no valor do plano anual.
Além de instalações adequadas, falta preparo dos profissionais para receber deficientes
na maioria das academias, na
avaliação da diretora-fundadora da ADD (Associação Desportiva para Deficientes), Eliane
Miada. "Os professores passam
um treino mais leve quando
poderiam passar um mais intensivo", exemplifica.
Pelas diretrizes do Ministério da Educação, cursos de educação física devem abordar as
necessidades dos deficientes,
mas a existência de disciplinas
exclusivas para tratar do assunto não é obrigatória.
Professor responsável por
educação física adaptada na
USP, onde a matéria é obrigatória, Luzimar Raimundo Teixeira afirma que, mais que quebrar barreiras arquitetônicas,
as academias precisam quebrar
"barreiras de atitude".
Aluno-surpresa
Das dez unidades da Bio Ritmo, a do shopping Pátio Higienópolis é a única com restrições de acesso, mas é lá que o
psicólogo Rafael de França, 25,
treina musculação, boxe e ioga
-entrando pela porta de serviço para evitar a escada.
França nasceu com mielomeningocele, patologia que faz
com que não sinta as pernas
dos joelhos para baixo. Seu início nos esportes foi aos 13 anos,
sempre em academias voltadas
para o público geral. "Quando
eu percebi que a fisioterapia
não ia me colocar de pé, eu saí
para a vida", afirma.
Seu professor, Marcelo Ubirajara, diz que a disciplina de
ginástica adaptada que cursou
na graduação em educação física na Unisa (Universidade de
Santo Amaro) e a especialização em fisiologia lhe dão segurança para adaptar as aulas
quando é surpreendido por um
aluno com restrições -segundo a prefeitura, 10,32% da população de São Paulo tem deficiência, mas não há dados sobre
quantos praticam esportes.
A vereadora Mara Gabrilli
-tetraplégica após um acidente de carro e primeira titular da
Secretaria Especial da Pessoa
com Deficiência e Mobilidade
Reduzida, criada em 2005-
malha diariamente: faz alongamento, pedala numa bicicleta
que exercita os braços e até caminha com ajuda dos choques
da eletroestimulação.
Para ela, a atividade física
ajuda os deficientes a combater
o sedentarismo e ganhar auto-estima. O aluno da Bio Ritmo
Rafael de França, no entanto,
faz um alerta: "A sociedade enxerga o deficiente ou como o
coitadinho, que precisa de tudo, ou como o super-herói que
transpõe barreiras. Essa cobrança por superação inibe alguns cadeirantes".
(GISELE LOBATO, MATHEUS MAGENTA e RENATA DO AMARAL)
Veja o que as academias
oferecem e os locais em
que os deficientes podem
praticar esporte em
www.folha.com.br/082974
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