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Vítima era um "mediador de conflitos"
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
Evandro João da Silva,
42, "e um bando de traficantes", conta o coordenador-geral do AfroReggae,
José Júnior, foram até o limite entre as favelas de
Parada de Lucas e Vigário
Geral (zona norte do Rio),
que disputavam o tráfico
havia mais de 20 anos.
Ele e Júnior conseguiram por um dia, em 2004,
que os chefes do tráfico
dessem as mãos e autorizassem um espetáculo de
teatro com plateia das
duas comunidades. Hoje,
Parada e Vigário não são
inimigas (têm a mesma
facção, o Terceiro Comando, na venda de droga), e
Evandro morreu baleado
num assalto no centro.
No último domingo, ele
andava no centro do Rio
de Janeiro, quando teve
tênis e casaco roubados
para, em seguida, ser morto pelos assaltantes. Um
carro da Polícia Militar
passou, não parou, e os policiais ainda levaram os
objetos roubados pelos
dois criminosos.
"É surpreendente que
tenha morrido assim. Ele
morou 40 anos na favela e
foi morrer no asfalto", lamenta José Júnior.
Evandro havia se mudado da Parada de Lucas, onde nasceu e cresceu, para o
centro da cidade fazia dois
anos. Com o trabalho, ele
conciliava a faculdade de
pedagogia, que concluiria
em dezembro. Já tinha começado outro curso, na
área de processamento de
dados, mas não terminou.
Em 2000, quando o
AfroReggae criou um braço na Parada de Lucas, ele
foi indicado para professor de informática. Com o
tempo, virou mediador de
conflito e coordenador social. "Ele odiava ir aos conflitos nas favelas, era muito mais mediador interno
que externo", diz Júnior.
O cineasta Cacá Diegues, que filmou Evandro
para o documentário "Nenhum Motivo Explica a
Guerra" (2006), concorda:
"Era um pacificador".
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