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Atirador do shopping revela "frieza" em cartas a travesti
Folha obteve com exclusividade 49 textos endereçados a Alcione Carvalho
Nas raras vezes em que trata do tema, Mateus banaliza o ataque de 1999, que lhe rendeu 120 anos de condenação
ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO
Enquanto cumpria pena
em SP pelo assassinato de
três pessoas num cinema do
shopping Morumbi, Mateus
da Costa Meira trocou 49 cartas com a travesti Alcione
Carvalho. Entre maio de 2001
e outubro de 2003, revelou,
no papel, frieza, inteligência
e poder de manipulação.
Nas raras vezes em que trata do tema, banaliza o massacre contra a plateia indefesa,
que lhe rendeu pena de 120
anos. "Se eu fizer uma bomba com explosivo plástico e
implodir um shopping, eles
vão continuar me achando
normal", escreveu em 2001.
"Mostrei cópia das cartas,
mas meu cliente diz que não
se recorda de nada", diz Vivaldo Amaral, seu advogado.
A pedido da Folha, o perito José Gonzalez analisou a
grafia das cartas. Comparou-as ao manuscrito de Mateus
anexado ao processo no STJ.
"Pela análise da gênese
gráfica do autor, que é a digital da letra, as cartas foram
escritas por Mateus", afirma.
Mateus temia que a correspondência viesse a público.
Em 2002, pede: "Queime
tudo: carta, bilhete, foto, receita, jornal, dinossauro,
qualquer coisa escrita que se
refere a mim." Alcione não
acatou. "As cartas me pertencem. Ele queria destruí-las
por mostrar como é perigoso." Parou de se corresponder por medo. "Temia que
mandasse me matar", diz.
Eles se conheceram oito
semanas antes do crime. "Fui
com uma amiga à Santa Casa, nos encontramos e trocamos telefones", diz Alcione.
A travesti testemunhou
um período conturbado na
vida do estudante, agravado
pelo consumo de drogas.
"Ele estava na farinha [cocaína]. Já não falava coisa
com coisa. Sempre achava
que tinha alguém atrás dele."
Alcione soube do crime pela TV. "Escrevi para entender. Mas ele é frio, arrogante
e na loucura pode fazer mal a
muita gente, mesmo preso."
Depois de agredir com
uma tesourinha um espanhol com quem dividia a cela, Mateus foi transferido para o hospital de custódia de
Salvador. Para evitar que seja
levado a novo júri popular, a
defesa solicitou outro exame
de insanidade mental. "Mateus tem graves transtornos
mentais, e como tal é inimputável e deve ser submetido a
tratamento", diz o advogado.
Sérgio Rigonatti -um dos
psiquiatras que assinam o
laudo no qual o atirador foi
considerado imputável-
afirma que o fato de ele ter
um transtorno de personalidade não o exime de responsabilidade. "Ele sabe diferenciar o certo e o errado."
Veja detalhes da perícia
folha.com/ct819057
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