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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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VIOLÊNCIA

Polícia não sabe quem atirou em rapaz; após confronto com seguranças de show, grupo destruiu carros e lojas na Barra Funda

Festival de rap termina em morte e arrastão

DA REPORTAGEM LOCAL

DO "AGORA"

Um rapaz morreu após ser baleado na cabeça, ao menos seis carros acabaram depredados, um posto de gasolina e três lojas foram atacadas após uma confusão em um show de rap, anteontem, na zona oeste de São Paulo.
O tumulto começou por volta das 22h30, no Espaço das Américas, na Barra Funda, onde aconteceu o festival "Hip Hop na Veia", com a participação de conjuntos como Racionais MC's, RZO, Expressão Ativa, entre outros, além do grupo americano Killarmy.
A polícia investiga o que deu origem ao conflito entre seguranças do evento e jovens que estavam do lado de fora. Uma das hipóteses é a venda de ingressos além da capacidade do lugar. Outra é que a multidão se revoltou com a demora na revista para entrar no local do festival.
Cerca de 5.000 pessoas estariam no local no momento em que começou a correria.
Seguranças teriam usado dois cães da raça rotweiller para conter o tumulto. Um homem não-identificado, que a polícia investiga se faz parte da segurança do festival, fez o disparo que atingiu Pedro Claudino Pinto, 20, na cabeça.
O rapaz morreu na Santa Casa, após ser socorrido por populares. Ele conhecia pessoas de uma das bandas do festival e esperava uma credencial para entrar.
A confusão se espalhou pelas ruas vizinhas, chegando à avenida Francisco Matarazzo, onde carros estacionados foram atacados -tiveram vidros quebrados e lataria amassada-, um posto de gasolina teve as bombas depredadas, e três lojas que funcionam dentro de um supermercado foram saqueadas -uma farmácia, um salão de cabeleireiros e uma loja de telefones celulares.
A tropa de choque da Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para conter o tumulto. O quebra-quebra terminou por volta das 2h.
"De repente, um monte de gente veio correndo e quebrando tudo. Fiquei com medo e me escondi dentro da garagem", afirmou o manobrista Antonio Fabio Rocha, 45, que trabalha em um estacionamento perto dali, que recebe veículos de uma casa noturna.
"Eu e minha mulher saímos da Vila Country e encontramos nosso Golf destruído. Um PM nos disse que, se ele não tivesse dado tiros para cima, os vândalos iam tacar fogo no carro. E a gente nem tem seguro", disse o promotor musical Lemos da Silva Sales, 34.

Versões
Nove rapazes foram detidos e levados ao 23º DP (Perdizes), onde prestaram depoimento sobre a suposta incitação aos danos. Todos foram liberados de madrugada. A polícia abriu inquérito.
Ontem, a delegacia ainda tentava descobrir quem organizou o evento e qual empresa fazia a segurança no local. O inquérito irá avaliar também quantos ingressos foram colocados à venda e qual a capacidade do galpão.
Segundo um segurança do Espaço das Américas, que não quis se identificar, o tumulto começou porque muitos queriam entrar sem ingresso e porque a revista na entrada era rigorosa. Os fãs de rap eram obrigados a deixar na porta correntes de carteira e de pescoço, além de outros objetos que poderiam ser usados em brigas.
De acordo com ele, a fila começou a demorar para andar e muitos, que já estavam bêbados, começaram a criar o tumulto.
O mesmo segurança disse que o disparo que matou o rapaz partiu de uma pessoa no meio da multidão. Os cães, disse ele, não teriam sido soltos, apenas ficaram nervosos e avançaram contra algumas pessoas, sem atacá-las.
Na tarde de ontem, durante a desmontagem do palco, nenhum integrante da produção do evento estava na casa, e os funcionários não souberam informar qual era a empresa responsável pela segurança do show. Segundo testemunhas, seria a Phanton Service, também não localizada.

Vítima
Familiares de Pedro Claudino Pinto afirmaram ontem que vão acionar a Justiça contra os responsáveis pelo evento de rap. "Não acredito que fizeram isso com ele", dizia a mãe do rapaz, Eva Claudino, no velório.
Amigos e parentes juntaram dinheiro para pagar o enterro do jovem, que morava com os pais e uma irmã no Jardim Floresta (zona sul), onde dava aulas de futebol. Ele não tinha o hábito de ir a shows, mas gostava de rap. "Pedro era caseiro e sossegado", disse Rafael, um amigo dele.



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