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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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ENSINO SUPERIOR

Existem 19,5% mais estudantes universitários fora das capitais; em 1995, a relação era de 1 para 1

Cresce número de matrículas no interior

LUIS RENATO STRAUSS
DA REPORTAGEM LOCAL

As matrículas na educação superior estão crescendo em um ritmo mais acelerado no interior do que nas capitais brasileiras. Em 1995, para cada estudante no interior, havia um nos grandes centros urbanos. Hoje há 19,5% mais alunos fora das capitais. Nesse período, o aumento no número de universitários no interior foi de 115,7%, contra 79,9% nas capitais.
Os dados resultam do cruzamento, feito pela Folha, de informações do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e dos Censos da Educação Superior de 95 a 2002, o mais recente, divulgado em outubro.
A rede particular, que nesse intervalo teve crescimento de 167% de matrículas no interior, hoje é responsável por 68,8% do setor. Nas capitais, representa 71% do total de universidades.
"Nesse período, começou a crescer o negócio do ensino superior no interior", afirma Sérgio Wether Duque Estrada, sócio-diretor da consultoria Valormax.
"Os empreendedores começaram a ver que os estudantes saíam de casa para fazer cursos na capital. Eles começaram a entender que existia uma oportunidade de criar um pólo de ensino superior nessas cidades [do interior]", diz.
Esse foi o primeiro passo: a oferta. Quando se percebeu que, de fato, havia uma demanda robusta, isso possibilitou o fortalecimento de quem já estava no mercado e reforçou o interesse de novas instituições em entrar no setor.
"Hoje muitas universidades em São Paulo [capital], por exemplo, estão olhando para o interior com o objetivo de comprar universidades", completa Duque Estrada.
Segundo ele, nas capitais, há uma grande concorrência consolidada, o que gera "a canibalização de preços ou, no mínimo, a dificuldade de repassar os custos para os alunos".

O mercado
Com quatro anos de existência, a Facamp (Faculdades de Campinas) foi uma das que apostaram no interior. A diretora Liana Aureliano ressalta pontos positivos da localização: Campinas tem filial de todos os bancos brasileiros e agências de empresa estrangeiras e a região possui cerca de 15% da população do Estado, estradas em boas condições, ferrovia e aeroporto de cargas, sendo um pólo exportador e porta de entrada do interior paulista.
Além disso, a instituição aposta em outro público. "Gente de classe média e classe alta da capital mora aqui e trabalha em São Paulo. Eles buscam qualidade de vida", disse.
Na região Centro-Oeste, que teve o segundo maior crescimento da educação superior no interior (210,5%), a tendência pode estar relacionada às novas fronteiras da agricultura brasileira.

O público
Para Simon Schwartzman, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), a expansão do ensino superior para o interior não mudou o perfil do estudante. O nível social e a renda são similares aos do público de dez anos atrás -classes A e B.
"A expansão se dá em áreas onde ainda não se tinha o ensino superior, mas isso não incorporou populações mais pobres. As universidades entraram para pegar a elite do interior", diz.
O secretário de Educação Superior do MEC (Ministério da Educação), Carlos Antunes dos Santos, sustenta, por sua vez, que a interiorização das faculdades é um dos fatores importantes para a inclusão social. "Existem dificuldades para o estudante se locomover para a capital. E as instituições acabam indo em direção a eles."



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