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LEGISLATIVO
Mudança na Lei Orgânica vai dificultar rejeição de contas de Marta Suplicy por não aplicar 30% das receitas em educação
Novos gastos com ensino valem já em 2001
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A aprovação, na Câmara Municipal de São Paulo, de alterações
na Lei Orgânica do Município para permitir a inclusão de gastos
sociais na prestação de contas
com educação poderá livrar a prefeita Marta Suplicy (PT) de ter
suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Município
(TCM) ainda este ano.
Na madrugada de sábado, a Câmara modificou o artigo 208 da
Lei Orgânica, que determinava a
aplicação de 30%, no mínimo, da
receita de impostos e de transferências para a "manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e da educação infantil".
Pela nova redação do artigo 208,
o índice obrigatório para a educação passa a ser 31%. No entanto, o
aparente aumento embute algumas despesas que antes não eram
consideradas nos gastos.
O projeto aprovado determina
que a prefeitura terá de despender
25% da arrecadação com a educação de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), espécie de
constituição do setor. Os outros
6% serão gastos em despesas estabelecidas em lei complementar, já
aprovada também na sessão da
madrugada do último sábado.
Essa divisão da comprovação de
gastos beneficia o Executivo. Isso
porque, na lei complementar, a
prefeitura passou a considerar como despesas passíveis de comprovação nos 25% o desembolsado com inativos, material didático
escolar e transporte escolar. O
TCM não aceitou, no ano passado, a inclusão desses valores na
comprovação da contabilidade da
gestão Celso Pitta (PSL) e recomendou a rejeição de suas contas.
Leve Leite
Nos 6% excedentes, a prefeitura
poderá utilizar as despesas com o
Renda Mínima, Bolsa Trabalho,
merenda escolar e até o Leve Leite
para contabilizar como investimentos na educação. Quando Pitta era prefeito, tentou incluir o Leve Leite como despesa na educação, mas os vereadores do PT foram contrários.
Ontem, o presidente da Câmara, José Eduardo Martins Cardozo
(PT), e o líder da prefeita, vereador José Mentor (PT), afirmaram
que as modificações aprovadas na
madrugada de sábado passarão a
valer a partir da promulgação da
mudança na Constituição municipal, o que deve acontecer nesta
semana. Com isso, o TCM, quando julgar as contas de 2001 de
Marta, terá de fazê-lo de acordo
com a Lei Orgânica já alterada.
Se a legislação não fosse modificada, Marta teria de gastar os 30%
apenas em remuneração de funcionários, manutenção, construção de novas escolas e concessão
de bolsas de estudo.
Na última contabilização dos
gastos com educação, divulgada
em outubro pela prefeitura, o
Executivo havia despendido, até
agosto, 26,8% da arrecadação
com o setor, já considerando os
inativos. Sem eles, o gasto teria sido de 19,9%. Pelos cálculos da
própria Secretaria Municipal das
Finanças, naquela época ainda
faltavam investir R$ 153,6 milhões
-isso para uma arrecadação de
cerca de R$ 6 bilhões à época.
O orçamento do ano que vem
estima em R$ 186 milhões a verba
que será destinada a projetos sociais da prefeitura, que o Executivo decidiu incluir na comprovação de gastos com a educação.
Mentor afirmou que o 1% a
mais aprovado pelos vereadores
significa cerca de R$ 95 milhões.
"No ano que vem, vamos aumentar em quase R$ 600 milhões os
gastos com educação", disse o líder da prefeita. No entanto, como
a arrecadação também vai aumentar -o orçamento deste ano
é de R$ 8,3 bilhões e, do ano que
vem, R$ 9,5 bilhões -o acréscimo no valor destinado à educação
decorre também do aumento previsto das receitas.
Ontem, a Câmara realizou mais
uma sessão e aprovou 72 projetos,
a maioria de vereadores. A votação do Orçamento de 2002 está
prevista para acontecer na próxima quinta-feira, dia 27.
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