São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 2002

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GOVERNO PETISTA

Futuro ministro da Saúde acena com reajuste imediato de preços de remédios, que seria seguido por congelamento

Costa quer fazer acordo com laboratórios

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

O psiquiatra e clínico geral Humberto Costa (PT), 45, acena aos laboratórios farmacêuticos com um acordo para o congelamento de preços de remédios após um reajuste. Mas admite a hipótese de o futuro governo não reeditar a medida provisória que, desde dezembro de 2000, mantém sob controle os preços dos medicamentos no país.
Candidato derrotado ao governo pernambucano e indicado ministro da Saúde pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, Costa disse que estuda proposta da indústria farmacêutica de um "acordo de cavalheiros".
A reedição ou não da medida provisória dos remédios é uma decisão que o governo Lula terá de tomar logo no primeiro dia da administração, já que o prazo de validade da MP é 31 de dezembro.
 

Agência Folha - Dos encontros com representantes da indústria farmacêutica resultou algo?
Humberto Costa -
Por enquanto, o que tem havido é apenas um conjunto de contatos. Estamos em negociações, em troca de idéias, porque a medida provisória vai expirar no dia 31. Poderá ser reeditada ou não. A indústria farmacêutica pede que não, porque eles têm receio de modificações no Congresso que possam gerar algum tipo de inviabilidade. Por outro lado, propõem fazer uma auto-regulação. Manteriam os preços congelados desde que houvesse um reajuste para compensar as perdas que alegam ter tido com o câmbio.

Agência Folha - Se concederia um reajuste num primeiro momento...
Costa -
Uma espécie de acordo de cavalheiros...

Agência Folha - ...sob o compromisso de que em seguida esses preços sejam mantidos estáveis por determinado período?
Costa -
A idéia que eles têm é essa. Ainda não estamos fixados.

Agência Folha - E a sua opinião?
Costa -
Vamos ter de estabelecer uma formulação definitiva para a regulação desse setor porque é um segmento com capacidade de formar preço. Agora, também não há nenhum impedimento para que durante certo tempo a gente tenha um acordo. Minha opinião é que esse processo de auto-regulação não consegue resolver o problema. Agora a gente pode interferir de outras formas. Por exemplo, ampliando a política de compras governamentais e a produção dos laboratórios públicos.

Agência Folha - Haveria margem no Orçamento?
Costa -
Houve um crescimento no orçamento da Saúde [de R$ 27,5 bilhões em 2002 para R$ 30,7 bilhões em 2003", eu diria até razoável. Mas, para uma política de compra ter de fato repercussão sobre os preços, ela tem de ser bem maior do que é hoje. Agora, confesso que no curto ou no médio prazo o que poderemos ampliar de compras talvez não permita repercutir nos preços.

Agência Folha - Há pretensão de se criar uma rede nacional de farmácias populares?
Costa -
Não estamos fixados ainda em qual seria o modelo.

Agência Folha - O de Pernambuco não é referência?
Costa -
Pode ser, mas esse sistema existe há vários anos, e, hoje, em Pernambuco, há apenas seis ou sete farmácias daquelas. Por quê? Porque, para o setor público montar, exige contratação de gente, adequação.

Agência Folha - Poderia então ser feito por meio de um sistema de franquias, como o dos Correios?
Costa -
A gente está pensando nisso também, mas tem de ver se o custo. Por que não poderíamos utilizar até mesmo as próprias farmácias privadas?

Agência Folha - Não haveria pressão de distribuidores privados?
Costa -
Mas a gente pode montar um modelo. Podemos estabelecer um acordo com o próprio distribuidor, e a pessoa vai na farmácia, mediante um vale ou coisa assim, e retira o medicamento. Assim que assumir, vou criar um grupo de trabalho para pensar essa coisa. Darei prazo de dois meses.

Agência Folha - O que vai mudar na política de combate à doença?
Costa -
Acho que o que tinha de ser feito neste ano, para este período de janeiro, já foi feito e até de forma razoável. Não tenho crítica maior a fazer. O que a gente vai pretender é implantar um trabalho mais permanente.

Agência Folha - Mas esse discurso é o mesmo do atual governo.
Costa -
Sim, mas não aconteceu. O governo começou a trabalhar com a questão da dengue em junho e teve uma série de percalços no caminho, a questão da campanha eleitoral, em que não se pôde fazer campanha de publicidade.

Agência Folha - Alguns secretários municipais querem verba específica para a dengue. O sr. atenderá a essa reivindicação?
Costa -
Não concordo com eles. Não se combate uma endemia de forma isolada. Você tem de ter saneamento, desenvolver ações.

Agência Folha - O combate à dengue não depende só da Saúde?
Costa -
Não disse isso. É que fico preocupado. Pode aparecer uma matéria dizendo assim: "Dengue vai ser resolvida com saneamento". Não. Há uma série de ações que só quem pode fazer é a Saúde.


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