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GOVERNO PETISTA
Futuro ministro da Saúde acena com reajuste imediato de preços de remédios, que seria seguido por congelamento
Costa quer fazer acordo com laboratórios
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
O psiquiatra e clínico geral
Humberto Costa (PT), 45, acena
aos laboratórios farmacêuticos
com um acordo para o congelamento de preços de remédios
após um reajuste. Mas admite a
hipótese de o futuro governo não
reeditar a medida provisória que,
desde dezembro de 2000, mantém sob controle os preços dos
medicamentos no país.
Candidato derrotado ao governo pernambucano e indicado ministro da Saúde pelo presidente
eleito Luiz Inácio Lula da Silva,
Costa disse que estuda proposta
da indústria farmacêutica de um
"acordo de cavalheiros".
A reedição ou não da medida
provisória dos remédios é uma
decisão que o governo Lula terá
de tomar logo no primeiro dia da
administração, já que o prazo de
validade da MP é 31 de dezembro.
Agência Folha - Dos encontros
com representantes da indústria
farmacêutica resultou algo?
Humberto Costa - Por enquanto,
o que tem havido é apenas um
conjunto de contatos. Estamos
em negociações, em troca de
idéias, porque a medida provisória vai expirar no dia 31. Poderá
ser reeditada ou não. A indústria
farmacêutica pede que não, porque eles têm receio de modificações no Congresso que possam
gerar algum tipo de inviabilidade.
Por outro lado, propõem fazer
uma auto-regulação. Manteriam
os preços congelados desde que
houvesse um reajuste para compensar as perdas que alegam ter
tido com o câmbio.
Agência Folha - Se concederia um
reajuste num primeiro momento...
Costa - Uma espécie de acordo
de cavalheiros...
Agência Folha - ...sob o compromisso de que em seguida esses preços sejam mantidos estáveis por
determinado período?
Costa - A idéia que eles têm é essa. Ainda não estamos fixados.
Agência Folha - E a sua opinião?
Costa - Vamos ter de estabelecer
uma formulação definitiva para a
regulação desse setor porque é
um segmento com capacidade de
formar preço. Agora, também
não há nenhum impedimento para que durante certo tempo a gente tenha um acordo. Minha opinião é que esse processo de auto-regulação não consegue resolver
o problema. Agora a gente pode
interferir de outras formas. Por
exemplo, ampliando a política de
compras governamentais e a produção dos laboratórios públicos.
Agência Folha - Haveria margem
no Orçamento?
Costa - Houve um crescimento
no orçamento da Saúde [de R$
27,5 bilhões em 2002 para R$ 30,7
bilhões em 2003", eu diria até razoável. Mas, para uma política de
compra ter de fato repercussão
sobre os preços, ela tem de ser
bem maior do que é hoje. Agora,
confesso que no curto ou no médio prazo o que poderemos ampliar de compras talvez não permita repercutir nos preços.
Agência Folha - Há pretensão de
se criar uma rede nacional de farmácias populares?
Costa - Não estamos fixados ainda em qual seria o modelo.
Agência Folha - O de Pernambuco
não é referência?
Costa - Pode ser, mas esse sistema existe há vários anos, e, hoje,
em Pernambuco, há apenas seis
ou sete farmácias daquelas. Por
quê? Porque, para o setor público
montar, exige contratação de gente, adequação.
Agência Folha - Poderia então ser
feito por meio de um sistema de
franquias, como o dos Correios?
Costa - A gente está pensando
nisso também, mas tem de ver se
o custo. Por que não poderíamos
utilizar até mesmo as próprias
farmácias privadas?
Agência Folha - Não haveria pressão de distribuidores privados?
Costa - Mas a gente pode montar
um modelo. Podemos estabelecer
um acordo com o próprio distribuidor, e a pessoa vai na farmácia,
mediante um vale ou coisa assim,
e retira o medicamento. Assim
que assumir, vou criar um grupo
de trabalho para pensar essa coisa. Darei prazo de dois meses.
Agência Folha - O que vai mudar
na política de combate à doença?
Costa - Acho que o que tinha de
ser feito neste ano, para este período de janeiro, já foi feito e até
de forma razoável. Não tenho crítica maior a fazer. O que a gente
vai pretender é implantar um trabalho mais permanente.
Agência Folha - Mas esse discurso
é o mesmo do atual governo.
Costa - Sim, mas não aconteceu.
O governo começou a trabalhar
com a questão da dengue em junho e teve uma série de percalços
no caminho, a questão da campanha eleitoral, em que não se pôde
fazer campanha de publicidade.
Agência Folha - Alguns secretários municipais querem verba específica para a dengue. O sr. atenderá a essa reivindicação?
Costa - Não concordo com eles.
Não se combate uma endemia de
forma isolada. Você tem de ter saneamento, desenvolver ações.
Agência Folha - O combate à dengue não depende só da Saúde?
Costa - Não disse isso. É que fico
preocupado. Pode aparecer uma
matéria dizendo assim: "Dengue
vai ser resolvida com saneamento". Não. Há uma série de ações
que só quem pode fazer é a Saúde.
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