|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Gari que devolveu R$ 12 mil quer tratar da coluna
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CARIACICA
Em vez de elogios, críticas e
até depressão. Quase um mês
após devolver R$ 12.366 que
encontrou ao varrer uma rua, o
gari de Cariacica (região metropolitana de Vitória, ES) Sebastião Breta, 43, diz carregar o
"peso da honestidade".
O gari Tião, como é conhecido, disse não passar um dia sem
ouvir "um bocado de gente"
censurar a devolução do dinheiro, o que o deprimiu.
Ele evitou se estender sobre
sua chateação. Procurou mostrar que também foi parabenizado. "Teve gente que eu nem
conhecia que foi lá em casa me
dar os parabéns", disse.
Coube ao chefe de Tião descrever as críticas que ele sofreu.
"Chamaram-no de burro, disseram que merece apanhar na
vida pela burrada que fez", disse Antônio Firmino, encarregado do serviço de limpeza.
Também não faltaram críticas para o chefe de Tião, por ter
localizado o dono do dinheiro.
"Fui a uma feira e o pessoal ficou falando: "Olha o burro de
Bela Aurora [bairro de Cariacica]. Você deveria ter convencido Tião a não devolver o dinheiro'", conta Firmino.
Gari há três anos no Espírito
Santo, o mineiro Tião disse que
após o episódio começou até a
fraquejar no trabalho. "Estou
prá baixo. Cheguei a pensar em
comprar um carro, mas pensei:
se comprar, não é meu. Se comprar uma casa, também não é
minha", disse ele, que recebe
um salário mínimo (R$ 350)
por mês.
Melhor coisa
Depois de ter devolvido o dinheiro, o gari disse que a melhor coisa que ocorreu em sua
vida foi uma viagem de avião a
São Paulo, paga por uma emissora de televisão.
"O avião era bonito demais.
Achei muito legalzinho e a poltrona era maneira." O gari contou que ficou famoso após aparecer na TV. "Minha família em
Minas até chorou quando me
viu. O pessoal me chamou de
celebridade."
Sua aparição televisiva também lhe rendeu um tratamento
para a coluna em uma clínica
particular de Vitória -ele tem
uma infecção no local há oito
anos. Contudo, ainda não iniciou o tratamento. "Gosto de
fazer tudo direitinho. Se faltar
ao serviço, bagunço o horário
dos meninos [os nove garis com
quem trabalha]. Vou tentar fazer em 2007", afirmou.
O dono do dinheiro, Aílton
Ronconi, deu R$ 1.000 e um
ano de cesta básica para Tião. O
dinheiro está guardado na lotérica de Ronconi e deve ser usado para Tião comprar sua parte
no terreno da família da mulher, onde vive há três anos.
No dia de Natal, Tião completa 44 anos sem esperar nada
especial. "Em um espaço de
tempo as pessoas vão esquecer
dessa história. Mas valeu a pena. Senti o gostinho de ter tanto
dinheiro junto e já está bom demais da conta", disse.
Texto Anterior: "Heróis" de 2006 contam o que esperam de 2007 Próximo Texto: Coletores de lixo sonham em rever bebê que encontraram dentro de mochila Índice
|