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Boa ação é questão de princípio, diz especialista
Mais que coragem ou fama, pessoas seguem instintos e lições familiares
"Quando encontramos alguém que foge à regra, nos sentimos tocados porque todo mundo tem o arquétipo do herói em si"
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os heróis que ganham espaço
nos jornais por causa de suas
boas ações e deixam de ser anônimos servem como uma espécie de "lembrete" à sociedade
de que nem tudo está perdido.
"Em meio à era de individualismo e falta de educação na qual
vivemos, gestos que demonstram preocupação com o próximo acabam resgatando nossos
sentimentos de solidariedade",
afirma Eduardo Ferreira-Santos, psicoterapeuta do Instituto
de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
"Atitudes como as do homem
que pulou no rio Pinheiros para
salvar uma criança ou dos índios que entraram na floresta
para resgatar os corpos do acidente aéreo destoam do comportamento geral e chamam
atenção." Para ele, o Brasil é carente de heróis e, quando aparece uma história com final feliz, a sociedade se sente atraída.
"Não temos heróis na política e,
agora, nem no futebol, afinal
perdemos a Copa do Mundo."
Ele lembra que, hoje, a maioria das pessoas não dá mais lugar para um idoso no metrô,
não cumprimenta os vizinhos
no elevador. "É falta de gentileza, de educação, de solidariedade. Mas, quando encontramos
alguém que foge à regra, nos
sentimos tocados porque todo
mundo tem o arquétipo do herói dentro de si."
Os heróis, por sua vez, não
agem em busca da fama ou movidos pela coragem. Eles seguem os instintos e, principalmente, a índole aprendida com
a família. "Quando alguém devolve um dinheiro que encontrou, está seguindo aquilo que o
pai e a mãe ensinaram. É uma
questão de princípios."
Foi por seguir seu "instinto
de paternidade" que o analista
de sistemas Adriano Levandoski de Miranda pulou no rio Pinheiros há quinze dias, quando
completava 27 anos, para salvar
um garoto de três anos. Ele não
gosta do título de herói. Diz que
não fez mais do que obrigação.
Com um filho de dois anos,
afirma que nunca ficaria com a
consciência em paz se não ajudasse a criança. "Nem pensei
nos riscos. Peguei uma moto e
cheguei na beira do rio, entrei
na água e agarrei o menino. Só
depois percebi os perigos."
Estampado nos jornais, ele
diz não gostar dessa fama repentina, mas quer que em 2007
haja mais boas notícias. "Nesse
ano a gente só ouviu falar de
coisas ruins. Acho que é por isso que as pessoas gostam tanto
de histórias que acabam bem",
afirma. "Meu desejo é o de que
o próximo ano seja de menos
violência e mais notícia boa."
Na manhã do dia 9, quando
passava pela ponte João Dias à
caminho do trabalho, Miranda
viu que uma mulher havia se
atirado no rio com uma criança.
Imediatamente, furtou uma
moto, parada com a chave no
contato enquanto seu dono observava a cena.
Chegou à margem do rio e
entrou na água suja. "O menino
se agarrou à mim e conseguimos sair da água. A mãe teve
ajuda de outras pessoas", conta.
"Não sou herói. Fiz o que qualquer um faria."
Miranda não teve mais oportunidade de ver o menino.
"Quero vê-lo antes do Natal,
apresentar meu filho e levar
um presentinho", contou à Folha, na terça-feira. "O encontro
deverá ser no fim de semana.
Será um Natal com final feliz
para todos nós."
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