São Paulo, quinta, 24 de dezembro de 1998

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MUDANÇA DE RUMO 2
Primeira-dama diz que só não repetiu a dose na segunda etapa da eleição porque havia fotógrafo
Nicéa admite voto em Covas no 1º turno



"Pus o nome de Edevaldo (Alves da Silva) embaixo de uma Nossa Senhora com uma vela."


"Votei no Mário Covas no primeiro turno. No segundo, tinha um fotógrafo na minha frente."
e da Reportagem Local

A primeira-dama de São Paulo, Nicéa Pitta, 51, votou em Mário Covas (PSDB) no primeiro turno da eleição para governador.
A revelação foi feita pela mulher do prefeito Celso Pitta (PPB) em entrevista à Folha.
Nicéa disse que no segundo turno só votou no padrinho político do seu marido, Paulo Maluf, porque havia um fotógrafo registrando a cena. "Eu achei que ficaria muito ...", afirmou.
A primeira-dama declarou que tem "pena" do ex-prefeito e do ex-secretário de Governo de Maluf e Pitta, Edevaldo Alves da Silva.
"Eu tenho muito pena de quem faz maldade. É tão mais fácil ser feliz", afirmou.

Folha - O cargo de primeira-dama é pequeno? A sra. quer vôos mais altos?
Nicéa Pitta
- Do lado dele, sempre. Mas com essa mesma abertura que ele me deu. Poder mostrar o que eu vejo. Tenho o privilégio de ter um marido que me incentiva muito, me ouve muito. E é recíproco. Quando exagero, não de forma premeditada, mas por erro mesmo, ele me avisa. Eu também sei reconhecer.
Folha - Ele incentiva a sra. a ser candidata?
Nicéa
- Houve um período em que ele pediu para que eu me filiasse ao partido (PPB). Disse que não.
Folha - O Comunidade Solidária seria um sonho para a sra.?
Nicéa
- Meu marido tem uma carreira política. Se ele assim determinar, vou estar ao lado dele.
Folha - O poder revitaliza?
Nicéa
- Não. O poder assusta. As pessoas acham que você tem poder de fato para solucionar situações que, muitas vezes, não dependem só de você. É frustrante. Há uma vontade de solucionar e não se pode devido às leis.
Folha - Mas a sra. gosta de ser a primeira-dama.
Nicéa
- De uma grande metrópole como São Paulo, é um prazer muito grande.
Folha - Seus adversários dizem que a senhora está entrando em todas as áreas.
Nicéa
- Realmente eu estou. A população está esperando muito. Na campanha me cobravam muito. E assim eu estou fazendo, ou seja, quero fazer jus àquilo que a população esperava de nós.
Folha - Em quem a sra. votou na eleição para governador?
Nicéa
- Eu votei no governador Mário Covas.
Folha - Nos dois turnos?
Nicéa
- Não. No primeiro turno. No segundo, havia um fotógrafo na minha frente, eu achei que ficaria muito ...
Folha - A sra. fez o estágio na A'Doro?
Nicéa
- Fiz. Trabalhei a vida inteira em vendas e também na área de obras de arte. Não teria dificuldade nenhuma de vender um produto desde que ele fosse um produto bom, no qual eu acredito e que conheço bem. E o produto frango eu considero o melhor. Não fui uma boa vendedora. O produto é que é bom. Estaria até mentindo se eu dissesse o contrário.
Folha - Por que a mulher do secretário das Finanças iria querer trabalhar de uma hora para a outra e quem convidou a sra.?
Nicéa
- Eu trabalhava no mercado imobiliário, que estava parado. Precisava procurar alternativas. Conversando com a Sylvia (Maluf), ela me disse: "Por que você não tenta entrar em produtos alimentícios, que é um mercado nervoso, mas constante?' Respondi: "Vou tentar'. E foi assim.
Folha - Foi remunerada?
Nicéa
- Tive reembolso de despesas.
Folha - Como a sra. vê o caso?
Nicéa
- Um caso sem mal nenhum. O irmão da Sylvia tem uma criação, um abatedouro. Fizeram licitação. É o que eu sei. Não houve proteção.
Folha - E o carro Vectra alugado?
Nicéa
- Foi pago com dinheiro, na minha casa. Confesso a vocês uma coisa: houve um momento em que comecei a acreditar que tinha vendido frango para a prefeitura, que tinha alugado um carro pago pelo banco Vetor e comprado um carro com cheque de doleiro. Já falava baixo em casa. E o Celso dizia assim: fale alto, fale alto. A minha irmã me perguntou: "Cá entre nós, você vendeu frango?'. Já estava com dificuldades de fazer as pessoas que me conhecem acreditarem em mim. Isso dói.
Folha - A sra. sofreu alguma provocação no período mais crítico?
Nicéa
- Minha irmã foi ameaçada na rua. Estava passeando com o cachorrinho e chegaram perto, fingindo que iam brincar com o cachorro. Disseram: "Você é cunhada do Pitta e será a primeira vítima'.
Folha - A senhora acha que o que se buscava era que o Pitta tomasse a iniciativa do rompimento?
Nicéa -
A estratégia era essa. Não era talvez uma vontade do doutor Paulo. Seríamos apresentados como ingratos. Eu me senti, nesse período, como os antepassados de Pitta que estiveram no tronco. Mas está doendo tanto! Eu me esforço para ser forte para ele e para meus filhos. Mas choro sozinha.
A sra. é vingativa?
Nicéa
- Não, tenho muita pena de quem faz maldade. É tão mais fácil ser feliz. Tenho muita pena do Edevaldo (Edevaldo Alves da Silva, ex-secretário de Governo). Se eu levar vocês em casa, vão ver onde está o nome dele. Embaixo de uma Nossa Senhora e com uma vela de sete dias acesa.
Tem pena de Paulo Maluf?
Nicéa -
Muita. muita.
(CT e RG)


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