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SAÚDE
Cirurgias e outras técnicas permitem a suavização de sinais, mas bom resultado depende até de fatores genéticos
Cicatriz já não é marca irreversível
LIANE FACCIO
DA REDAÇÃO
Baixa auto-estima, limitações de
ordem física, convívio social comprometido. Portadores de cicatrizes que fogem do padrão de normalidade de marcas do gênero
-fina, plana e com coloração semelhante à da pele ao redor- estão sujeitos a desconfortos desse
tipo, e muitas vezes só uma nova
cirurgia, com a substituição ou a
suavização da cicatriz existente,
pode mudar a vida do paciente.
Foi assim com a publicitária
Maira Garcia, 32, que sofreu um
acidente de carro aos 10 anos e teve um corte profundo na testa e
outros de menor extensão nas outras áreas do rosto. Ela conta que
passou parte da pré-adolescência
escondendo a cicatriz com bonés
e que, aos 21 anos, chegou a "travar" em sua intenção de fazer teatro por acreditar que um ator não
poderia pisar no palco estampando uma cicatriz no rosto.
Mais de 20 anos depois do acidente e após duas cirurgias reparadoras, a agora também cantora
acha que muito de sua inibição
decorria de imaturidade, mas reconhece o efeito psicológico das
plásticas. "Uma cicatriz no rosto
mexe muito com a identidade da
gente", diz ela.
Há 30 anos atuando como cirurgião plástico, Roberto Chem,
61, afirma que não há mágica para
a retirada de uma cicatriz. "Uma
agressão à pele é definitiva", explica Chem, professor da Fundação Faculdade Federal de Ciências
Médicas do Rio Grande do Sul e
chefe do setor de cirurgia plástica
da Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre.
"Converso bem com o paciente
e trabalho com ele com afeto, tratando-o como aliado, porque não
há garantia de bom resultado."
A ressalva é importante porque
o retorno ou não do sinal também
depende de peculiaridades de
quem vai ser operado, como fatores genéticos. "Cicatriz é a marca
remanescente de uma injúria, é
uma tentativa do organismo de
restaurar a pele agredida", explica
a dermatologista Doris Hexsel, 49,
coordenadora do departamento
de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Alguns procedimentos podem
ser feitos no consultório do próprio dermatologista. É o caso da
compressão, usada para cicatrizes
elevadas e quelóides, que consiste
no uso de uma atadura bem apertada e que provoca o rebaixamento da cicatriz.
Segundo Sérgio Carreirão, 59,
presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, um dos
produtos utilizados para suavizar
marcas mais tênues é a lâmina de
silicone, fixada na região afetada
por pelo menos 15 dias, período
em que, conforme o silicone é liberado, o tecido passa a amolecer.
Outra possibilidade é a injeção
de cortisona, que pode ser utilizada, segundo Doris Hexsel, nos casos em que as marcas desaparecem momentaneamente quando
a pele é distendida, num pequeno
teste manual. Nesses casos, a infiltração com corticóides ou o
preenchimento com ácido hialurônico, ambas substâncias produzidas pelo corpo humano, pode
corrigir os problemas.
Peelings são usados para retirar
marcas, tanto as mais sutis, como
as de acnes que atingiram a epiderme, a camada mais superficial
da pele, quanto às que atingiram a
derme, a porção mais profunda.
Márcio Rutowitsch, presidente
da Sociedade Brasileira de Dermatologia, cita como exemplo os
peelings realizados com irradiação a laser. Não chegam a ser invasivos como as cirurgias, mas
exigem que o paciente fique em
casa pelo menos uma semana e só
se exponha à claridade com protetor solar, uma vez que retiram
toda a epiderme e causam feridas
que não costumam cicatrizar antes de três semanas.
Às vezes, a cicatriz não desencadeia mal-estar estético, mas dói,
coça ou está numa posição que
atrapalha o movimento, como a
palma da mão ou a região da dobra do dedo, impedindo que ele
estique totalmente. Nessas situações os médicos aconselham uma
cirurgia que pode mudar a direção, alongar ou mesmo substituir
a cicatriz muito evidente por uma
mais discreta (veja quadro).
Independentemente do tipo de
cicatriz ou do procedimento de
remoção a ser utilizado, é consenso entre cirurgiões e dermatologistas que o médico acompanhe o
paciente que tiver a pele agredida.
"O acompanhamento pode prevenir infecções e indicar o melhor
tratamento para que o caso não se
agrave", observa Doris Hexsel.
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