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ENTREVISTA
Congresso de odontologia debate
a importância de o mundo sorrir
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil já foi campeão de cáries, e as suas regiões mais pobres
ficaram conhecidas como bases
de populações de desdentados.
Hoje, os cirurgiões-dentistas
brasileiros estão entre os mais renomados, e o país conta com 170
mil profissionais, número bem
acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Só no Estado de São Paulo, há 80
mil dentistas. As faculdades de
odontologia, que cresceram desordenadamente e em grande número, agora têm dificuldades em
atrair alunos. Temas como as novas tecnologias e as relações dentista-paciente serão debatidos no
22º Congresso Internacional de
Odontologia, que começa hoje
em São Paulo.
Na prática, enquanto a odontologia avança em tecnologia, a saúde bucal ainda é tratada como algo dissociado da saúde integral.
Por um lado, nunca mereceu a devida atenção do serviço público
de saúde; por outro, acaba significando um custo alto demais, inclusive para a classe média.
Com a fluoretagem da água
adotada em todos os centros urbanos, o índice de cáries vem
caindo significativamente. Para
os adultos, a maior preocupação
está nas doenças periodontais.
"Aqui, como no Primeiro Mundo, a grande preocupação da
odontologia está hoje na prevenção", diz Salvador Nunes Gentil,
47, presidente do congresso. "Por
outro lado, procedimentos sofisticados como implantes dentários
são hoje feitos com técnicas modernas, a um custo menor e de
forma nada traumática."
Abaixo, trechos da entrevista
que concedeu à Folha.
Folha - O Brasil ainda é considerado um país de desdentados?
Salvador Nunes Gentil - Já fomos
tidos como o campeão de cáries,
mas há anos deixamos este lugar.
Ainda há problemas em áreas
mais carentes, porque houve uma
concentração crescente nos grandes centros. Mas, do ponto de vista técnico, estamos no nível da
Europa e dos EUA.
Folha - Pela Constituição, a saúde
é um direito de todos. A saúde bucal também está incluída nessa
obrigação do Estado. Na prática,
não é isso que acontece. Por quê?
Gentil - Já houve um progresso
nos últimos anos, com unidades
básicas de saúde oferecendo atendimento dentário. Mas ainda há
muito por fazer. Deveria haver
uma participação maior do governo. As escolas de odontologia,
por sua vez, têm oferecido tratamentos gratuitos às famílias mais
carentes. Mas isso é uma contribuição filantrópica.
Folha - Por que, na sua opinião, a
medicina vem merecendo maior
atenção que a odontologia por parte do governo?
Gentil - Não deveria ser assim,
porque a saúde bucal e periodontal é parte importante da saúde
das pessoas e pode interferir em
outros órgãos do organismo, como o coração.
Folha - O tema do congresso deste ano é "Odontologia -porque o
mundo precisa sorrir". O que se
pretende dizer com isso?
Gentil - A intenção é ressaltar no
cirurgião-dentista a importância
que ele tem para a população.
Trata-se de um profissional que
pode reconduzir o paciente a seu
meio social, além de cuidar da
prevenção.
Os dentes não são importantes
apenas esteticamente -o que já
não seria pouco, pois isso interfere na auto-estima da pessoa, no
trabalho. São importantes também porque bons dentes significam boa saúde.
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