São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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ENTREVISTA

Congresso de odontologia debate a importância de o mundo sorrir

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil já foi campeão de cáries, e as suas regiões mais pobres ficaram conhecidas como bases de populações de desdentados.
Hoje, os cirurgiões-dentistas brasileiros estão entre os mais renomados, e o país conta com 170 mil profissionais, número bem acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Só no Estado de São Paulo, há 80 mil dentistas. As faculdades de odontologia, que cresceram desordenadamente e em grande número, agora têm dificuldades em atrair alunos. Temas como as novas tecnologias e as relações dentista-paciente serão debatidos no 22º Congresso Internacional de Odontologia, que começa hoje em São Paulo.
Na prática, enquanto a odontologia avança em tecnologia, a saúde bucal ainda é tratada como algo dissociado da saúde integral. Por um lado, nunca mereceu a devida atenção do serviço público de saúde; por outro, acaba significando um custo alto demais, inclusive para a classe média.
Com a fluoretagem da água adotada em todos os centros urbanos, o índice de cáries vem caindo significativamente. Para os adultos, a maior preocupação está nas doenças periodontais.
"Aqui, como no Primeiro Mundo, a grande preocupação da odontologia está hoje na prevenção", diz Salvador Nunes Gentil, 47, presidente do congresso. "Por outro lado, procedimentos sofisticados como implantes dentários são hoje feitos com técnicas modernas, a um custo menor e de forma nada traumática."
Abaixo, trechos da entrevista que concedeu à Folha.

Folha - O Brasil ainda é considerado um país de desdentados?
Salvador Nunes Gentil -
Já fomos tidos como o campeão de cáries, mas há anos deixamos este lugar. Ainda há problemas em áreas mais carentes, porque houve uma concentração crescente nos grandes centros. Mas, do ponto de vista técnico, estamos no nível da Europa e dos EUA.

Folha - Pela Constituição, a saúde é um direito de todos. A saúde bucal também está incluída nessa obrigação do Estado. Na prática, não é isso que acontece. Por quê?
Gentil -
Já houve um progresso nos últimos anos, com unidades básicas de saúde oferecendo atendimento dentário. Mas ainda há muito por fazer. Deveria haver uma participação maior do governo. As escolas de odontologia, por sua vez, têm oferecido tratamentos gratuitos às famílias mais carentes. Mas isso é uma contribuição filantrópica.

Folha - Por que, na sua opinião, a medicina vem merecendo maior atenção que a odontologia por parte do governo?
Gentil -
Não deveria ser assim, porque a saúde bucal e periodontal é parte importante da saúde das pessoas e pode interferir em outros órgãos do organismo, como o coração.

Folha - O tema do congresso deste ano é "Odontologia -porque o mundo precisa sorrir". O que se pretende dizer com isso?
Gentil -
A intenção é ressaltar no cirurgião-dentista a importância que ele tem para a população. Trata-se de um profissional que pode reconduzir o paciente a seu meio social, além de cuidar da prevenção.
Os dentes não são importantes apenas esteticamente -o que já não seria pouco, pois isso interfere na auto-estima da pessoa, no trabalho. São importantes também porque bons dentes significam boa saúde.



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