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Bairro ergue muro contra vizinho pobre
Vila de classe média em Santa Maria (RS) constrói barreira de 400 metros de extensão para separá-la de área invadida
Alegação de moradores é
o crescimento da violência; polícia diz que criminalidade diminuiu 70% após prisão de suspeitos, em outubro
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Moradores de um bairro de
classe média de Santa Maria
(RS) ergueram um muro para
separá-los de uma área pobre
originada de uma invasão.
O motivo alegado para a
construção da parede -de três
metros de altura e de 400 metros de extensão- é reduzir a
criminalidade no bairro, que
teria crescido depois de ter começado a invasão vizinha.
O bairro de classe média é a
Vila Noal. Ela tem 3.000 moradores e fica dentro de outro
bairro, o Patronato. Já a área
pobre é a Vila Natal, que surgiu
no início de 2005, a partir de
uma invasão a uma propriedade da família Stoever.
Na 3ª Delegacia de Polícia de
Santa Maria, que atende à região, a informação obtida pela
Folha foi que a criminalidade
não deveria ser motivo para o
erguimento do muro. Isso porque, segundo essa avaliação, os
crimes caíram 70% na Vila
Noal desde outubro passado,
após a prisão de seis suspeitos
de arrombamentos.
A família Stoever, proprietária da área ocupada, negocia a
comercialização do terreno
com a Prefeitura de Santa Maria, mas ainda há entraves para
a transação, como a regularização de documentos.
De acordo com o secretário
de Habitação da cidade, Osvaldo Severo, havia 60 famílias
(cerca de 300 pessoas) no local
na época da invasão. O número
de habitantes hoje, de acordo
com ele, é incerto.
Condomínio fechado
O muro começou a ser erguido em novembro do ano passado, dentro de terrenos particulares na Vila Noal. A estrutura
está com 200 metros de extensão. No entanto, a previsão é
que alcance os 400 metros
quando estiver concluído.
O objetivo futuro dos moradores é transformá-lo em um
cercado, alterando o bairro para condomínio fechado, com
guaritas e porteiras.
De acordo com a prefeitura
da cidade gaúcha, não existe
ilegalidade na construção porque ela não interrompe vias públicas e foi objeto de consenso
entre os moradores da Vila
Noal e os proprietários dos terrenos por onde passa.
Por ora, o muro apenas dificulta a passagem dos moradores da Vila Natal, mas já há
quem reclame de preconceito.
Opiniões cordiais
"Para nós será muito ruim.
Tudo fica mais difícil, para ir ao
mercado, à escola. É discriminação", disse a comerciária Nádia Simões, 45, mãe de duas filhas e moradora do bairro invadido desde outubro de 2006.
Representantes das associações de moradores dos dois
bairros procuram demonstrar
cordialidade. Para o presidente
da Associação de Moradores da
Vila Noal, Airton Teixeira, o
muro não visa discriminar pessoas, mas "proteger uma área
particular". Ele afirmou que
existe amizade entre os moradores de seu bairro de classe
média e os da área ocupada.
O vice-presidente da Associação de Moradores da Vila
Natal, José Luiz de Oliveira,
disse entender a medida. "Eles
têm direito de se proteger. Queremos apenas regulamentar
nossos terrenos."
Segundo Teixeira, da Vila
Noal, o bairro começou a registrar assaltos e arrombamentos
após a invasão vizinha. Moradores então aprovaram a construção do muro em reunião,
mesmo com alguns se dizendo
constrangidos pela imagem de
preconceito que a medida poderia transmitir.
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