São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Aos 455 anos, SP valoriza árvores nativas

Secretaria do Verde planeja plantar 800 mil mudas de espécies da flora original da cidade nos próximos quatro anos

Hoje, bairros paulistanos como Brás, Santa Cecília e Sé têm índices de metro quadrado de área verde por habitante próximo do zero

OCIMARA BALMANT
DA REVISTA DA FOLHA

Nas comemorações dos 450 anos de São Paulo, a figueira do parque Ibirapuera, espécie originária da Ásia, foi eleita pela população a árvore-símbolo da cidade. No aniversário de hoje, cinco anos depois, as árvores nativas é que estão em alta.
A Secretaria do Verde e Meio Ambiente disse que fará o plantio de 800 mil exemplares com DNA paulistano nos próximos quatro anos em toda a cidade. "Vamos plantar 200 mil árvores nativas por ano", afirmou Eduardo Jorge, titular da pasta.
Pontos para o velho jequitibá, que resiste há mais de um século no Trianon. Quando o parque foi fundado, em 1892, o jequitibá já estava lá. Com grades que o protegem e 117 anos depois, a árvore centenária continua no mesmo lugar.
Coisa rara. Por décadas, enquanto São Paulo não parava de crescer, sua vegetação não parava de minguar. Uma equação trágica refletida em números atuais. Relatório divulgado na última semana pela secretaria relaciona a atual extensão da cobertura vegetal com a expansão urbana e a verticalização das regiões.
Enquanto o Morumbi, que ainda preserva os quintais em seus casarões, tem 239 m2 de verde por habitante, no outro extremo, estão áreas centrais com "plantações" extensas de prédios. O resultado é que bairros como Brás, Santa Cecília e Sé ostentam índice de metro quadrado de área verde por habitante próximo a zero. Nessas regiões, há quarteirões inteiros sem nenhuma árvore.
O verde tem levado a pior na briga pelo espaço na calçada: as raízes das árvores lutam no subsolo com as redes de distribuição de água, gás e coleta de esgoto; na superfície, os troncos rivalizam com os postes, placas e guias rebaixadas. No alto, as copas sofrem com a fiação telefônica e elétrica.
A consequência pode ser medida em graus. As regiões menos arborizadas converteram-se em ilhas de calor, que chegam a registrar temperaturas até 10ºC mais altas do que as medidas nos extremos sul e norte da cidade, onde ficam as reservas florestais e os grandes reservatórios de água.
"Nessas ilhas, é preciso reestruturar o desenho urbano, inclusive com a efetiva desapropriação de espaços", afirma Patrícia Sepe, coordenadora do grupo de indicadores ambientais da prefeitura.
A ideia é desocupar alguns terrenos nesses bairros áridos para a implantação de projetos como os "parques de bolso". "Não precisamos construir um Ibirapuera. Em uma quadra, pode nascer um parque", completa a geóloga.
A prefeitura não dispõe de um levantamento dos locais a serem desapropriados para se tornarem parques nem dos recursos financeiros disponíveis para esse projeto.

Cidade-fantasma
Para os ambientalistas, não há escolha. Arborizar é questão de sobrevivência. "No futuro, ou teremos cidades verdes ou cidades-fantasmas", prevê Pablo Melo Fajardo, especialista em gestão ambiental e diretor da ONG Tudo Verde. "Precisamos plantar, e as nativas são as mais indicadas."
Apesar de adaptadas ao clima, mais resistentes, com potencial para atrair os pássaros e com copas grandes, as espécies paulistanas acabaram por se tornar raras nas ruas da metrópole. "Do total da vegetação, menos de 20% hoje é típica da cidade", diz o botânico Ricardo Cardim, da Associação dos Amigos das Árvores de São Paulo. "Se alguém quiser ver uma copaíba, por exemplo, vai ter trabalho para encontrar."
As perobas, os araribás e os cedros, abundantes na época pré-urbanização, também se tornaram escassos. Boa parte dessas madeiras de lei serviu para construir telhados, portas e móveis nos primeiros três séculos da cidade.
Com frutos comestíveis ou não, as árvores exóticas predominam nas ruas paulistanas. A espécie mais comum na cidade, que representa 40% do total, é a tipuana. De origem boliviana, fez parte da arborização dos bairros projetados pela companhia inglesa City, nos anos 1930 e 1940. Hoje, compõe a paisagem das ruas largas de algumas regiões mais verdes, como os Jardins e o Alto de Pinheiros.
A moda das árvores exóticas chegou no mesmo navio em que vieram os imigrantes, ainda no século 18.
"Eles valorizavam o que tinha na terra deles, como os jardins ingleses e franceses. Não pensavam que tudo o que estava aqui há muito tempo deveria ser bom", explica Ricardo.


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