São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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AMBIENTE
Três morrem ao cair de barco que família usava para fugir da enchente; 1.347 famílias continuam desabrigadas
Chuva no Acre deixa 5 crianças mortas

Antonio Gaudério/Folha Imagem
Família de Francisca Braga da Silva (ao fundo), que perdeu a casa na enchente e está abrigada no parque de exposições em Rio Branco, no Acre


RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Rio Branco

Subiu para cinco o número oficial de mortos (todos crianças) em decorrência da cheia nos rios do Acre. A Defesa Civil confirmou ontem que na sexta-feira duas crianças, de 3 e 5 anos, e um bebê de 9 meses, morreram afogados no rio Iaco, em Sena Madureira (144 km de Rio Branco).
O pai das crianças, o agricultor Antônio Paula de Oliveira, retirava a família de uma área de enchente quando o barco que conduzia bateu de frente num tronco de árvore que vinha arrastado pelo rio. A batida arremessou as crianças para fora do barco.
Outras duas crianças, de 4 anos e de 1 ano e 3 meses, morreram afogadas em Rio Branco, no dia 21, em áreas de cheia.
Com um balanço de 3.774 famílias atingidas, das quais 1.347 desabrigadas e atendidas provisoriamente em barracas da Defesa Civil e Exército nos municípios de Rio Branco, Sena Madureira e Cruzeiro do Sul (369 km da Capital), as autoridades do Acre consideram a situação "sob controle".
Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), nos primeiros 17 dias de janeiro choveu no Estado do Acre 317 mm. O instituto calculava 255 mm durante todo o mês.
O nível do rio Acre, cuja cheia atingiu 2.500 famílias em bairros pobres de Rio Branco e desabrigou 970 famílias, baixou durante todo o fim-de-semana, quando ocorreram apenas chuvas rápidas.
O rio estava ontem cerca de 1,3 metro acima da cota de alerta, que é de 13,5 metros, mas havia recuado mais de um metro em relação à última sexta-feira.
O pico da cheia deste ano, no fim-de-semana passado, foi de 15,96 metros, ainda bem abaixo dos 17,67 metros da cheia recorde de 1997, considerada a maior dos últimos 50 anos pelo coordenador estadual da Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros, José Sidney de Araújo Silva, 42.
Segundo o coronel, a cheia de 97 desabrigou cerca de 70% mais pessoas do que a deste ano, mas foi menor em número de mortos, com dois casos.
As famílias flageladas estão abrigadas em seis pontos diversos em Rio Branco.
No local de maior concentração, o parque de exposições, havia ontem 350 famílias, ou até mil pessoas, segundo a Defesa Civil.
Em Sena Madureira, a cheia do rio Iaco desabrigou 334 famílias, obrigando a Defesa Civil retirar emergencialmente 130 famílias ribeirinhas, com apoio de barcos. Também lá o nível do rio baixou neste fim-de-semana.
Nos bairros mais atingidos em Rio Branco, a água da cheia misturada aos detritos das fossas residenciais produz forte mau cheiro e faz aumentar o risco de doenças.
A comerciante Maria de Lurdes Ferreira, 58, que não abandonou seu bar, localizado num ponto mais alto do bairro Taquari, um dos mais atingidos pela cheia, queixava-se ontem de uma imensa ferida na mão. Segundo Lurdes, a ferida surgiu após a "alagação", como o acreano chama a cheia.
O governador do Acre, Jorge Viana (PT), deve encaminhar hoje à Defesa Civil Nacional um projeto de atendimento às famílias que estão retornando aos bairros. Serão solicitados materiais para tratamento de água, colchões e medicamentos.
O governo já homologou os dois decretos de situação de emergência baixados pelos prefeitos de Rio Branco e Sena Madureira.
A situação de emergência é o primeiro passo antes da decretação de calamidade pública, em que os municípios estão aptos a conseguir recursos federais e dispensados de licitação para compras emergenciais de materiais e alimentos.



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