São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2001

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URBANISMO

Professores pretendem inovar o ensino da arquitetura praticado no país

Escola quer ter excelência como marca

CÉLIA CHAIM
DA REPORTAGEM LOCAL

Parece uma organização não-governamental, mas é uma escola aprovada pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) que nos cinco anos que se seguirão, a partir de julho, formará arquitetos em São Paulo. Parece um sonho, mas é uma realidade que se ergueu num galpão branco na zona oeste da cidade para receber, inicialmente, 60 alunos.
A Escola da Cidade, mantida pela Associação de Ensino de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, entidade sem fins lucrativos, é uma sublevação a favor do conhecimento, da pesquisa, da arquitetura praticada por Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi, Lúcio Costa, da viabilização da formação de arquitetos e urbanistas capacitados para lidar com a realidade urbana e ambiental contemporânea.
Será o primeiro curso de arquitetura do país em período integral. O aluno chega de manhã e fica até a noite, com aulas, seminários, palestras, cursos especiais e experiências práticas -com os professores- no que foi batizado de "escola itinerante". Seguem, por exemplo, para um bairro da periferia de São Paulo para dar orientação aos moradores, desde a lição básica de como se faz uma fossa até a localização da casa em relação ao sol e ao vento.
A Escola da Cidade, criada por um grupo renomado de arquitetos-professores que dirigiu o curso de arquitetura na Universidade Brás Cubas, em Mogi das Cruzes (região metropolitana de São Paulo), é a primeira escola no Brasil desenhada e dirigida por uma associação formada por seus próprios professores: arquitetos, historiadores, engenheiros, filósofos, artistas plásticos. No mundo, apenas cinco escolas funcionam assim. E estão bem longe daqui: nos Estados Unidos, no México, no Chile, na Suíça e na França.
O vestibular não terá textos da revista inglesa "The Economist", impropriedade cometida pela Fuvest no vestibular de 2001 com alunos recém-saídos do terceiro colegial. Na verdade, a Escola da Cidade aboliu a palavra "vestibular" de sua estrutura.
Os alunos serão selecionados de acordo com o currículo. Vão passar por uma conversa individual sobre vários assuntos. Depois serão convidados a assistir a uma palestra e escrever sobre o que ouviram. Também irão ao cinema e depois escreverão sobre o filme.
É uma revolução diante das provas de opções e de "pegadinhas" que derrubam os menos treinados para provas de vestibular. Não é mais fácil, é inteligente.
A relação privilegiada entre a entidade mantenedora -a Associação de Ensino de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo- e o corpo docente permitiu que o projeto pedagógico e o regimento interno fossem elaborados para constituir não apenas uma escola mas um centro de estudos que trabalhe sobre as diferentes formas de ocupação do espaço e a sua relação com a natureza.
A associação, presidida pela arquiteta Anália Maria Marinho de Carvalho Amorim, mantém todo o entorno da escola: a biblioteca, os cursos livres e de pós-graduação, o setor de publicações, além do centro de pesquisa.
É a associação também que está fechando convênios que vão garantir a concessão de bolsas de estudos a alguns alunos (a mensalidade será em torno de R$ 900) e de salários justos aos professores. Toda a receita da escola reverterá para os projetos da associação. O apoio institucional já recebido é um trunfo de credibilidade: Fundação Oscar Niemeyer, Fundação Vilanova Artigas, Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, Casa Lúcio Costa e Instituto Itaú Cultural.
O diretor da escola é o arquiteto Ciro Pirondi, que estudou arquitetura em Barcelona, onde está uma das melhores escolas do mundo, ao lado da escola de Veneza, e está envolvido há mais de duas décadas com o ensino, além de manter seu escritório de projetos. Pirondi foi o escolhido por Oscar Niemeyer para conduzir, em seu lugar, a reforma do edifício Copan, localizado no centro da capital paulista.
Ele -assim como todos os outros 50 integrantes da associação- está nas nuvens. Por um longo tempo, arquitetos de renome no país acalentaram a idéia de criar uma associação sem fins lucrativos para manter uma escola de arquitetura de alto nível (das mais de 20 escolas que funcionam em São Paulo, apenas a FAU, da Universidade de São Paulo, leva cinco estrelas nos rankings de avaliação mais rigorosos). "É um sonho, mas estamos com os pés bem firmes no chão", diz Pirondi.



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