|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
URBANISMO
Professores pretendem inovar o ensino da arquitetura praticado no país
Escola quer ter excelência como marca
CÉLIA CHAIM
DA REPORTAGEM LOCAL
Parece uma organização não-governamental, mas é uma escola
aprovada pelo MEC (Ministério
da Educação e Cultura) que nos
cinco anos que se seguirão, a partir de julho, formará arquitetos
em São Paulo. Parece um sonho,
mas é uma realidade que se ergueu num galpão branco na zona
oeste da cidade para receber, inicialmente, 60 alunos.
A Escola da Cidade, mantida
pela Associação de Ensino de Arquitetura e Urbanismo de São
Paulo, entidade sem fins lucrativos, é uma sublevação a favor do
conhecimento, da pesquisa, da arquitetura praticada por Oscar
Niemeyer, Vilanova Artigas, Lina
Bo Bardi, Lúcio Costa, da viabilização da formação de arquitetos e
urbanistas capacitados para lidar
com a realidade urbana e ambiental contemporânea.
Será o primeiro curso de arquitetura do país em período integral. O aluno chega de manhã e fica até a noite, com aulas, seminários, palestras, cursos especiais e
experiências práticas -com os
professores- no que foi batizado
de "escola itinerante". Seguem,
por exemplo, para um bairro da
periferia de São Paulo para dar
orientação aos moradores, desde
a lição básica de como se faz uma
fossa até a localização da casa em
relação ao sol e ao vento.
A Escola da Cidade, criada por
um grupo renomado de arquitetos-professores que dirigiu o curso de arquitetura na Universidade
Brás Cubas, em Mogi das Cruzes
(região metropolitana de São
Paulo), é a primeira escola no Brasil desenhada e dirigida por uma
associação formada por seus próprios professores: arquitetos, historiadores, engenheiros, filósofos,
artistas plásticos. No mundo, apenas cinco escolas funcionam assim. E estão bem longe daqui: nos
Estados Unidos, no México, no
Chile, na Suíça e na França.
O vestibular não terá textos da
revista inglesa "The Economist",
impropriedade cometida pela Fuvest no vestibular de 2001 com
alunos recém-saídos do terceiro
colegial. Na verdade, a Escola da
Cidade aboliu a palavra "vestibular" de sua estrutura.
Os alunos serão selecionados de
acordo com o currículo. Vão passar por uma conversa individual
sobre vários assuntos. Depois serão convidados a assistir a uma
palestra e escrever sobre o que ouviram. Também irão ao cinema e
depois escreverão sobre o filme.
É uma revolução diante das
provas de opções e de "pegadinhas" que derrubam os menos
treinados para provas de vestibular. Não é mais fácil, é inteligente.
A relação privilegiada entre a
entidade mantenedora -a Associação de Ensino de Arquitetura e
Urbanismo de São Paulo- e o
corpo docente permitiu que o
projeto pedagógico e o regimento
interno fossem elaborados para
constituir não apenas uma escola
mas um centro de estudos que
trabalhe sobre as diferentes formas de ocupação do espaço e a
sua relação com a natureza.
A associação, presidida pela arquiteta Anália Maria Marinho de
Carvalho Amorim, mantém todo
o entorno da escola: a biblioteca,
os cursos livres e de pós-graduação, o setor de publicações, além
do centro de pesquisa.
É a associação também que está
fechando convênios que vão garantir a concessão de bolsas de estudos a alguns alunos (a mensalidade será em torno de R$ 900) e
de salários justos aos professores.
Toda a receita da escola reverterá
para os projetos da associação. O
apoio institucional já recebido é
um trunfo de credibilidade: Fundação Oscar Niemeyer, Fundação
Vilanova Artigas, Instituto Lina
Bo e Pietro Maria Bardi, Casa Lúcio Costa e Instituto Itaú Cultural.
O diretor da escola é o arquiteto
Ciro Pirondi, que estudou arquitetura em Barcelona, onde está
uma das melhores escolas do
mundo, ao lado da escola de Veneza, e está envolvido há mais de
duas décadas com o ensino, além
de manter seu escritório de projetos. Pirondi foi o escolhido por
Oscar Niemeyer para conduzir,
em seu lugar, a reforma do edifício Copan, localizado no centro
da capital paulista.
Ele -assim como todos os outros 50 integrantes da associação- está nas nuvens. Por um
longo tempo, arquitetos de renome no país acalentaram a idéia de
criar uma associação sem fins lucrativos para manter uma escola
de arquitetura de alto nível (das
mais de 20 escolas que funcionam
em São Paulo, apenas a FAU, da
Universidade de São Paulo, leva
cinco estrelas nos rankings de
avaliação mais rigorosos). "É um
sonho, mas estamos com os pés
bem firmes no chão", diz Pirondi.
Texto Anterior: Tragédia: Crianças assistem à morte dos pais dentro de Kadett Próximo Texto: Ambiente: Petrobras aceita auditoria em instalações no PR Índice
|