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ABRE-ALAS
O que as nuas fazem nos outros 362 dias do ano?
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O enredo escolhido pela
Unidos da Tijuca, que desfilou domingo, foi a ciência, dos alquimistas à descoberta do DNA;
a Porto da Pedra, que se exibiu
na segunda-feira, também escolheu um tema árido, a comunicação. Pois ambos deram samba,
samba dos melhores e desfiles
inesquecíveis. Só que é impossível
torcer por uma escola só, e cada
uma que entra na avenida apaixona, arrebata, e aí começa a
torcida. Qual vai ganhar? E
quem sabe?
No segundo dia de desfile, não
faltaram grávidas: a Portela tinha a ala Futuro, só delas, e Cássia Kiss desfilou seu barrigão na
Viradouro. A única carnavalesca
grávida que faltou foi Luma de
Oliveira, cuja separação continua sendo assunto das mesas de
bar do Rio.
Cada escola tem uma média de
4.000 componentes. São sete escolas no domingo, sete na segunda: total, 56 mil pessoas. Vamos
imaginar que desse total metade
seja de homens, metade de mulheres. Das 28 mil mulheres, descontam-se as baianas, as mais
caretas, os destaques com roupas
grandes e ricas, e sobram aí, num
cálculo pessimista, umas 5.000
que desfilam praticamente nuas.
Nunca passou pela sua cabeça
querer saber quem são elas? De
onde vêm? O que fazem nos outros 362 dias do ano? Alguns tentam simplificar dizendo "são todas prostitutas", o que não é verdade. Mas afinal?
Mulher não tem muito problema de se mostrar (desde que seja
bonita e gostosa), mas até certo
ponto. Mas cobrir o corpo de purpurina e deixar só um tapa-sexo
mínimo equilibrado não se sabe
bem como, não é para qualquer
uma. E se a tia do interior estiver
vendo a televisão? E o pai aposentado? E o filho pequeno? E os
colegas do filho?
Entre elas, deve haver funcionárias públicas, estudantes, balconistas: como encarar o chefe na
segunda-feira depois do Carnaval? E depois de serem aplaudidas por 70 mil pessoas na avenida, qual a graça de, na semana
seguinte, pegar um cineminha e
ir comer uma pizza com o namorado? Por acaso existe algum homem que possa dar a elas a mesma emoção de uma multidão
gritando e aplaudindo durante
uma hora de desfile? É muita responsabilidade para um homem
só, convenhamos.
Mas como Carnaval não é para
ser levado a sério, bom mesmo é
ver Nelson Rubens e seus colegas
na RedeTV! fazendo as maiores
baixarias, puxando o cache-sex
para ver o que tem por baixo e
pedindo um sambinha no pé, isso
sem som nem nada.
E elas deixando e sambando,
pois não há nada igual a ter a
chance de aparecer na televisão
pelo menos uma vez na vida.
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