São Paulo, domingo, 25 de março de 2001

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Treinamento de temporário pode ser precário

DA REPORTAGEM LOCAL

Embora não existam estatísticas que expressem diretamente a relação entre os contratos temporários e os acidentes de trabalho, os setores que empregam esse tipo de mão-de-obra registram um grande número de ocorrências não letais e de mortes.
Para completar, muitos trabalhadores temporários não são registrados.
Quatro especialistas ouvidos pela Folha dizem que, como o treinamento desse tipo de trabalhador costuma ser precário, ele fica mais vulnerável a acidentes.
Juarez Correia Barros Jr, do Ministério do Trabalho, diz que na construção civil -um dos líderes em acidentes- 60% da mão-de-obra é informal.
Não é por acaso que no Estado do Tocantins, onde estão sendo realizadas várias obras, o número de acidentes tenha aumentado de 341 em 97 para 654, em 99.
Em todo o país, entre 98 e 99, foram registrados 838 óbitos de operários do setor.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho, 65% dos trabalhadores da zona rural estão no mercado informal e são contratados em caráter temporário.
Extração de pedra e areia (que ocorre basicamente nas zonas rurais) é um bom exemplo disso. Além disso, as estatísticas do setor dão uma mostra do sub-registro dos acidentes no país.
As mortes nesse setor da indústria extrativa mineral saltaram de 9, em 97, para 28 em 98 e 30 em 99. Só que entre 98 e 99 a quantidade de acidentes registrados no setor caiu de 1.051 para 962.
De um lado os acidentes menos graves são reduzidos, de outro, os letais aumentam nessa proporção. Para Hermano Albuquerque, da Fiocruz, a explicação é simples: isso prova que os acidentes sem morte são subnotificados.

Produção
Théo Oliveira, assessor de saúde do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, diz que mesmo nas metalúrgicas de médio porte há trabalhadores contratados em caráter temporário sem treinamento adequado, atuando na linha de produção.
"O trabalhador é contratado para o setor de manutenção, mas, se falta um operário efetivo, ele pode ir parar na produção sem ter a menor noção de normas de segurança", diz Oliveira.
Segundo o sindicalista, esses trabalhadores são submetidos a um esquema de terror. "As empresas deixam claro que os operários que têm mais chance de permanecer empregados após o fim do contrato temporário são os mais produtivos. Eles passam a desafiar até o limite das máquinas para conseguir o emprego."
O sistema de fiscalização do governo federal, no entanto, é falho. Em São Bernardo, por exemplo, há 1.500 metalúrgicas, 120 mil empregados e três fiscais do trabalho. (GABRIELA ATHIAS)


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