|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Treinamento de temporário pode ser precário
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora não existam estatísticas que expressem diretamente a
relação entre os contratos temporários e os acidentes de trabalho,
os setores que empregam esse tipo de mão-de-obra registram um
grande número de ocorrências
não letais e de mortes.
Para completar, muitos trabalhadores temporários não são registrados.
Quatro especialistas ouvidos
pela Folha dizem que, como o
treinamento desse tipo de trabalhador costuma ser precário, ele
fica mais vulnerável a acidentes.
Juarez Correia Barros Jr, do Ministério do Trabalho, diz que na
construção civil -um dos líderes
em acidentes- 60% da mão-de-obra é informal.
Não é por acaso que no Estado
do Tocantins, onde estão sendo
realizadas várias obras, o número
de acidentes tenha aumentado de
341 em 97 para 654, em 99.
Em todo o país, entre 98 e 99, foram registrados 838 óbitos de
operários do setor.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho, 65% dos trabalhadores da zona rural estão no
mercado informal e são contratados em caráter temporário.
Extração de pedra e areia (que
ocorre basicamente nas zonas rurais) é um bom exemplo disso.
Além disso, as estatísticas do setor
dão uma mostra do sub-registro
dos acidentes no país.
As mortes nesse setor da indústria extrativa mineral saltaram de
9, em 97, para 28 em 98 e 30 em 99.
Só que entre 98 e 99 a quantidade
de acidentes registrados no setor
caiu de 1.051 para 962.
De um lado os acidentes menos
graves são reduzidos, de outro, os
letais aumentam nessa proporção. Para Hermano Albuquerque,
da Fiocruz, a explicação é simples:
isso prova que os acidentes sem
morte são subnotificados.
Produção
Théo Oliveira, assessor de saúde
do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo do Campo, no ABC
paulista, diz que mesmo nas metalúrgicas de médio porte há trabalhadores contratados em caráter temporário sem treinamento
adequado, atuando na linha de
produção.
"O trabalhador é contratado para o setor de manutenção, mas, se
falta um operário efetivo, ele pode
ir parar na produção sem ter a
menor noção de normas de segurança", diz Oliveira.
Segundo o sindicalista, esses
trabalhadores são submetidos a
um esquema de terror. "As empresas deixam claro que os operários que têm mais chance de permanecer empregados após o fim
do contrato temporário são os
mais produtivos. Eles passam a
desafiar até o limite das máquinas
para conseguir o emprego."
O sistema de fiscalização do governo federal, no entanto, é falho.
Em São Bernardo, por exemplo,
há 1.500 metalúrgicas, 120 mil empregados e três fiscais do trabalho.
(GABRIELA ATHIAS)
Texto Anterior: Outro lado: Estatísticas registram "linha positiva", afirma ministério Próximo Texto: Maior parte dos lesionados são industriários Índice
|