São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 2002

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TRÂNSITO

Dados da CET indicam piora no tráfego após abertura da ligação Régis-Raposo; para Dersa, tempo de viagem será reduzido

Trecho do Rodoanel opõe Estado e prefeitura

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Trecho do Rodoanel entre as rodovias Régis Bittencourt e Raposo Tavares, em Cotia, com inauguração prevista para 7 de abril


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A abertura de uma ligação de 7 km do Rodoanel, entre as rodovias Régis Bittencourt e Raposo Tavares, prevista para 7 de abril, promete trazer mudanças significativas no trânsito da cidade de São Paulo e uma nova disputa entre governo do Estado e prefeitura neste ano de eleições.
O trajeto urbano dos caminhões que chegam ou se dirigem à região Sul do país, estimados pela Dersa em 15 mil por dia, sofrerá alterações com a inauguração da obra, que corresponde a 22% do trecho oeste do Rodoanel. Eles continuarão passando por dentro da capital paulista, mas por vias diferentes das atuais.
Ao chegar da Régis Bittencourt, esses veículos utilizam hoje as avenidas Prof. Francisco Morato e Eliseu de Almeida, que são paralelas, até cair na marginal Pinheiros.
Após a entrega da ligação Régis-Raposo, 70% do tráfego deve adotar um novo caminho: Raposo, avenidas Escola Politécnica e Jaguaré, saindo perto do Ceagesp.
A Dersa, órgão estadual responsável pelo Rodoanel, prevê que a criação do novo trajeto vai reduzir a viagem dos caminhoneiros nos horários de pico, da Régis até a marginal Pinheiros, de uma hora e 40 minutos para 55 minutos.
Os técnicos da Secretaria Municipal dos Transportes, porém, fizeram um estudo, a partir de dados da CET, e chegaram à seguinte conclusão: a inauguração do trecho no mês que vem vai criar um novo problema de trânsito e não irá resolver aquele existente.
A pesquisa aponta que a quantidade de veículos por hora na av. Escola Politécnica, perto da Raposo Tavares, vai aumentar 38% nos períodos de pico -de 1.311 para 1.813. O número de veículos na Régis, porém, nas proximidades da Francisco Morato, deve ter uma redução tímida, de 16%. Motivo: motoristas que usam trajetos alternativos para fugir desse corredor voltarão a ocupá-lo.
"O conceito do Rodoanel é a ligação das estradas. Do jeito que está sendo feito, a situação do trânsito urbano sofre mudanças e só piora", diz Pedro Nagao, chefe da assessoria técnica da Secretaria dos Transportes, que defende a inauguração da pista Régis-Raposo junto com as partes restantes do trecho oeste, em julho, ligando ainda as rodovias Castelo Branco, Anhanguera e Bandeirantes.

Transporte público
Segundo Nagao, a preocupação maior é com as interferências no transporte público. A av. Corifeu de Azevedo Marques está para receber a "Operação Via Livre", que prevê mudanças nas pistas para favorecer a circulação dos ônibus. O novo trajeto dos caminhões pode afetar a região. "Se os caminhões forem para lá, certamente vão travar os cruzamentos", diz.
Segundo a Folha apurou, a Secretaria dos Transportes deve adotar medidas operacionais que indicam um boicote à abertura do trecho Régis-Raposo.
O titular da pasta, Carlos Zarattini, decidiu na semana passada que pode iniciar, em até dez dias, as obras de recuperação do viaduto Naor Guelfi, que foi inaugurado pelo ex-prefeito Celso Pitta no último mês de seu mandato.
Esse viaduto, que ficará interditado ao menos 30 dias, é a principal ligação da rodovia Raposo Tavares com a avenida Escola Politécnica, ou seja, seria parte do percurso dos caminhões após a inauguração parcial da ligação oeste do Rodoanel. Os técnicos da prefeitura identificaram na alça um desnível de 40 cm entre as pistas. "Não podemos ser irresponsáveis e deixar que algum caminhão vire e caia ali", diz Zarattini.
"Haverá um conflito. A nossa programação de atividades vai coincidir com a do Estado. Se eles insistirem na inauguração, os caminhões terão que rodar mais para acessar a Escola Politécnica", afirma Pedro Nagao.

"Absurdo"
O diretor de operações da Dersa, Ricardo Teixeira, considera "absurda" a posição da administração municipal. "É uma coisa estúpida. Vamos abrir uma alternativa a mais e a situação não vai melhorar? O fluxo de caminhões vai se diluir no trajeto novo."
Teixeira reconhece que haverá uma "saturação" apenas na Raposo Tavares, da obra do Rodoanel ao viaduto Naor Guelfi, totalizando cerca de quatro quilômetros. "Mas é uma situação temporária, por apenas três meses, até a inauguração total do trecho oeste."
O corredor das avenidas Escola Politécnica e Jaguaré, na avaliação dele, está ocioso e tem capacidade para receber um maior volume de tráfego. As três faixas de rolamento poderiam comportar até 3.000 veículos por hora, diz Teixeira.
"Essa é uma visão de quem administra rodovias, não considera uma série de interferências do tráfego urbano", rebate Nagao.
O diretor de operações da Dersa não afirma que medidas irá tomar caso haja um boicote da prefeitura à ligação Régis-Raposo.
"A população vai julgar essas atitudes emocionais. Eles vão dar um tiro no pé, vão comprar uma briga com os moradores do Morumbi, Butantã e Vila Sônia, que sofrem com a passagem de caminhões perto de ruas residenciais."
A av. Prof. Francisco Morato, no cruzamento com a av. Guilherme Dumond Vilares, por onde passam hoje os caminhões vindos da região Sul do país, foi apontada como a mais barulhenta da capital paulista, entre 75 pontos listados pela fonoaudióloga Carolina Moura, do Gerus (Grupo de Estudo em Ruído e Saúde) da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).
A pesquisadora identificou, em 2001, um ruído de 81,44 decibéis na região, acima do limite de 55 decibéis recomendados pela Organização Mundial de Saúde.


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