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SURTO NO SUL
Vistorias não detectaram presença de barbeiros em regiões onde 5 pessoas já morreram
SC não encontra transmissor da doença de Chagas em canaviais
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS E NAVEGANTES
Passada uma semana da confirmação do primeiro caso do mal
de Chagas por ingestão de caldo
de cana em Santa Catarina, os
agentes do Ministério da Saúde e
da Secretaria Estadual da Saúde
ainda não conseguiram encontrar
vestígios do barbeiro, o inseto vetor da doença.
Ontem, 16 técnicos em vigilância sanitária vasculharam duas
propriedades em Navegantes -a
120 km de Florianópolis-, onde
teria ocorrido a contaminação
que provocou as cinco mortes já
confirmadas, mas nada foi encontrado que pudesse levar ao protozoário causador da doença.
Segundo a Vigilância Sanitária,
também foram inspecionadas as
dez maiores propriedades que
cultivam cana-de-açúcar próximas aos locais onde já ocorreram
mortes. "Não há nenhum indício
de que o barbeiro esteja alojado
nessas áreas", afirmou Raquel Bitencourt, chefe do órgão.
"A única certeza que temos até
agora é que a contaminação se
deu pelo caldo de cana", disse o
chefe de vigilância epidemiológica da Secretaria da Saúde, Luiz
Antonio da Silva.
A busca pelo barbeiro ou por algum material capaz de isolar o foco de contaminação da cana-de-açúcar se concentrou nos quiosques das margens da BR-101, entre Tijucas e Joinville. A Secretaria
da Saúde determinou a suspensão
do comércio de caldo no Estado
por tempo indeterminado.
"Vamos ficar aqui até descobrir
o que aconteceu", disse o coordenador do trabalho de campo da
Funasa (Fundação Nacional da
Saúde), ao sair do mato, todo picado de insetos, em Navegantes.
Ele escondeu o crachá e não se
identificou. Uma norma adotada
anteontem restringe as entrevistas ao comando da investigação.
O objetivo é evitar informações
conflitantes, afirmou o chefe da
área epidemiológica.
A confirmação do surto levou à
interdição de 616 pontos de venda
de caldo, mas a Vigilância afirmou não poder garantir que todos os quiosques foram fechados.
"Esse comércio é irregular e muitos desses pontos são clandestinos", disse Raquel Bitencourt. Ela
também afirmou que a contaminação dos canaviais pelo barbeiro
"está praticamente descartada".
A cana que abastece os quiosques de caldo sai, principalmente,
de propriedades de Gaspar e Luiz
Alves, cidades distantes de 30 a 60
km dos pontos de consumo.
Exames restritos
Até o meio-dia de ontem, apenas um posto municipal do centro de Florianópolis funcionou
para atender aos que tomaram
caldo de cana no período investigado -1º de fevereiro a 20 de
março.
A Secretaria de Saúde de Florianópolis chegou a divulgar nota informando que seus postos estariam fechados, por impossibilidade de formar equipes de plantão
na quinta-feira de ponto facultativo. Mas, no início da tarde, já
eram quatro os pontos de coleta
de sangue para exames.
Ainda assim, a coleta foi restrita
a pessoas com algum sintoma da
doença -febre, dores musculares, dor de cabeça, calafrios. O
atendimento a casos sem sintomas foi postergado por falta de
kits para exames.
Entretanto, no Rio de Janeiro, o
ministro da Saúde, Humberto
Costa, disse que foram enviados
50 mil kits ao Estado.
A restrição fez a aposentada
Edith Ferreira dos Santos, 68, e os
netos Bruno, 12, e Rafael, 16, voltarem para casa ainda preocupados. Oito membros da família tomaram caldo em 5 de março.
Num quiosque de Porto Belo,
um dos proprietários, Jamir Venceslau Raulino, 46, disse que, em
dias movimentados do verão,
chegava a vender até 400 copos de
caldo ao dia. Ontem a máquina de
moer cana estava lacrada. Para
ele, o surto no litoral de Santa Catarina foi orquestrado por uma
multinacional de refrigerantes
para combater a concorrência.
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