São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2008

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Governo investiga receita de sucesso no ensino de 37 cidades

Valorização da leitura e acompanhamento rigoroso do aluno estão entre as características comuns às redes com bom desempenho

Experiências coletadas no estudo que teve a parceria do MEC serão divulgadas para outras redes; contexto econômico foi isolado

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A biblioteca da escola é transportada de um canto para o outro por um jegue guiado por alunos, professores e diretores. Os "mestres" passam por avaliações e estão sujeitos a ter de freqüentar aulas de reforço.
Um representante visita a casa do aluno que falta dois dias consecutivos para saber o motivo da ausência. Iniciativas como essas de Alto Alegre do Pindaré (32 mil habitantes, interior do Maranhão) foram elencadas no estudo "Redes de aprendizagem -Boas práticas de municípios que garantem o direito de aprender", elaborado por uma parceria entre o Ministério da Educação, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação).
O trabalho, que será apresentado hoje pelo ministro Fernando Haddad, elenca 37 redes municipais que, segundo o trabalho, influenciaram de fato no aprendizado dos alunos, já que o contexto socioeconômico foi isolado da análise.
A intenção era identificar escolas que encontraram soluções para problemas comuns a outras escolas, segundo a secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda. O próximo passo, disse, é divulgar as experiências bem-sucedidas. "Levar a experiência como um pacote fechado não funciona, mas é possível ver que Formosa [município de Goiás entre os 37] tem uma formação sólida de professores e um foco na aprendizagem. É ver que tem gente que, nas mesmas condições, dá conta e resolve."
A tarefa, no entanto, não deve ser fácil, de acordo com o professor Cândido Gomes, da Universidade Católica de Brasília. "O que é bom deve ser replicado, mas a educação é como árvores, têm raízes. Não sai de um lugar para outro com muita facilidade, mas, se houver a mesma vontade política e gestores capazes, não há dúvida de que se conseguirão resultados positivos", disse.

Metodologia
Entre os critérios de escolha estão a nota quatro no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que varia de um a dez, e o desempenho acima do esperado em relação a redes com condições socioeconômicas semelhantes. Apenas 103 dos 2.346 sistemas municipais passaram por esses dois filtros. Desses, 37 foram escolhidos de acordo com a representatividade "regional e populacional" e visitados por pesquisadores no final de 2007.
Ainda que se destaquem de seus contextos socioeconômicos, nenhuma das redes selecionadas está nos padrões do mundo desenvolvido, que tem Ideb igual ou maior que seis, mas todas estão acima da média nacional, que é de 3,8. Foram ouvidos pais, alunos, professores, funcionários e dirigentes municipais.
Conforme mostra o estudo, os técnicos identificaram fatores comuns nessas 37 redes, como planejamento didático e pedagógico, olhar individual sobre o aluno, acesso à educação infantil (0 a 5 anos), valorização da leitura, gestão participativa e ao mesmo tempo exigente, com avaliações dos profissionais, integração entre as escolas da rede municipal e valorização do professor.
Embora também seja mencionada a importância dada à formação dos professores, o trabalho mostra que há realidades distintas. Enquanto em Sud Mennucci (SP) 92% dos professores têm nível superior e em Sete Barras (251 km de SP) o índice chega a 100%, em Presidente Dutra (BA) eles tinham só o ensino médio completo.
Já a valorização da leitura foi citada por 29 das 37 redes como fator de sucesso.


Colaborou JOHANNA NUBLAT, da Sucursal de Brasília


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