São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2008

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Anna Arruda Botelho Franco, ou Anita

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem andasse pela avenida Paulista nos idos dos anos 1920 veria, entre as moças de chapéu e sombrinhas, luvas e vestidos de cetim, caminhando a passos pequenos com o peso de seus sobrenomes, Anna Carolina Arruda Botelho Junqueira Franco.
Anita nasceu em uma casa na rua dos Guaianazes, perto do antigo palácio dos Campos Elíseos, em São Paulo, "onde todo mundo importante morava". Era 29 de fevereiro de um ano bissexto.
Neta de cafeicultores paulistas, lembrava a disputa entre o avô materno, José Paulino Nogueira, um monarquista; e o paterno, Antônio Carlos de Arruda Botelho, o republicano conde do Pinhal -que deixou para cada um dos 13 filhos uma fazenda. Em uma delas, ainda criança, viu passar o cometa Halley.
Estudou, ela e as irmãs, em casa, com professores de costura, bordado, alemão e francês. "Inglês não era moda." Mas a vida social era intensa, com visitas de amigas e idas às óperas (francesas) no Teatro Municipal; festas regadas a ponche de vinho de Bordeaux, que a família importava em barris; e caminhadas na Paulista, sombrinha em punho, na nata da sociedade.
Quando Getúlio Vargas irritou as elites paulistas ao tomar o poder, em 1930, ajudou na "Revolução Constitucionalista" de 1932, costurando uniformes para os soldados. Só casou após os 30, "tardíssimo". Passou a ir a Paris e fazer "obras sociais".
Quando restaurou a Fazenda Pinhal, em São Carlos, fez uma festa sob a sombra das jaboticabeiras, para convidados como Dom Pedro de Orleans e Bragança. Ganhou, em 2007, uma medalha do prefeito, mas não buscou -estava internada na casa de repouso. Viúva, tinha três filhos, quatro netos e uma bisneta. Morreu dia 16, aos 104.


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