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Anna Arruda Botelho Franco, ou Anita
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem andasse pela avenida Paulista nos idos dos anos
1920 veria, entre as moças de
chapéu e sombrinhas, luvas e
vestidos de cetim, caminhando a passos pequenos
com o peso de seus sobrenomes, Anna Carolina Arruda
Botelho Junqueira Franco.
Anita nasceu em uma casa
na rua dos Guaianazes, perto
do antigo palácio dos Campos Elíseos, em São Paulo,
"onde todo mundo importante morava". Era 29 de fevereiro de um ano bissexto.
Neta de cafeicultores paulistas, lembrava a disputa entre o avô materno, José Paulino Nogueira, um monarquista; e o paterno, Antônio
Carlos de Arruda Botelho, o
republicano conde do Pinhal
-que deixou para cada um
dos 13 filhos uma fazenda.
Em uma delas, ainda criança,
viu passar o cometa Halley.
Estudou, ela e as irmãs, em
casa, com professores de costura, bordado, alemão e francês. "Inglês não era moda."
Mas a vida social era intensa,
com visitas de amigas e idas
às óperas (francesas) no Teatro Municipal; festas regadas
a ponche de vinho de Bordeaux, que a família importava em barris; e caminhadas
na Paulista, sombrinha em
punho, na nata da sociedade.
Quando Getúlio Vargas irritou as elites paulistas ao tomar o poder, em 1930, ajudou na "Revolução Constitucionalista" de 1932, costurando uniformes para os soldados. Só casou após os 30,
"tardíssimo". Passou a ir a
Paris e fazer "obras sociais".
Quando restaurou a Fazenda Pinhal, em São Carlos,
fez uma festa sob a sombra
das jaboticabeiras, para convidados como Dom Pedro de
Orleans e Bragança. Ganhou,
em 2007, uma medalha do
prefeito, mas não buscou
-estava internada na casa de
repouso. Viúva, tinha três filhos, quatro netos e uma bisneta. Morreu dia 16, aos 104.
obituario@folhasp.com.br
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