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Pragmatismo e profissionalismo orientou passagem pela Globo
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
em Washington
Aos 29 anos de idade, Walter Clark
Bueno assumiu a direção-geral da TV
Globo do Rio. Dois anos depois, tornou-se o principal executivo da Rede
Globo, que ele em grande parte ajudara a conceber. De 1967 a 1977, foi o
mais poderoso executivo da história
da comunicação social do Brasil.
O sucesso da Globo se deve em
muito à visão que Clark trouxe para a emissora: a de que a programação é um produto que tem que
ser vendido como outro qualquer.
A orientação de "marketing"
que Clark deu à Globo era inédita.
A partir dela, nem a TV nem qualquer outro meio de comunicação
pôde ignorar a sua condição de objeto de consumo com a finalidade
de gerar lucros. A fase artística, romântica, ingênua, acabou com o
êxito sem precedentes da Globo.
Walter Clark era o componente
mais visível de uma equipe que liderou o processo de consolidação
da Globo como o mais importante
instrumento da indústria cultural
brasileira. Joseph Wallach, José
Bonifácio de Oliveira, o Boni, José
Ulisses Arce, José Otávio Castro
Neves, Armando Nogueira, Borjalo eram outros integrantes. Todos
tinham como princípio doutrinário o que depois se tornou conhecido como "profissionalismo"
-estabelecimento de metas claras
a serem alcançadas e mobilização
de recursos para atingi-las.
A integração entre programação, publicidade e gerenciamento
era essencial para que isso funcionasse. O compromisso único de
Clark era com o maior número
possível de pontos no Ibope. Como era necessário usar Jacinto Figueira Júnior, Raul Longras,
Dercy Gonçalves para obter a audiência do público-alvo do seu período inicial de Globo, foi o que ele
mobilizou. Quando uma classe
média se estabeleceu como o grupo social que ditava o gosto nacional, o "padrão Globo de qualidade" se elevou (pelo menos na aparência) para atendê-lo. Quando a
doutrina ideológica do regime militar era aceita e a submissão aos
seus interesses foi essencial para
assegurar o crescimento da rede,
Clark a aceitou com vigor. Quando
a abertura política começava a parecer inevitável, ele a acompanhou
com limitadas ousadias (como a
novela "O Bem Amado").
Embora seja difícil saber a quem
creditar com precisão a autoria de
idéias num trabalho coletivo como
a televisão, foi no período em que
Clark esteve à frente da Globo, que
o conceito da telenovela como
"âncora" de toda a programação
da rede se estabeleceu. Clark foi
também o defensor da teoria de
que a audiência de um programa
atrai a dos seguintes.
A importância de Clark na história da TV brasileira nunca poderá
ser subestimada. Mas é evidente
que o seu êxito foi o resultado não
só de sua inteligência e pragmatismo como de uma conjunção de
circunstâncias. Como ele mesmo
definiu, Roberto Marinho o chamou num momento de desespero
("o sujeito quando está desesperado faz qualquer negócio, vai ao
Zé Arigó, à macumba; eu fui o Zé
Arigó do dr. Roberto Marinho").
A situação política, econômica e
social do país era adequada à sua
filosofia. As pessoas que trabalharam com ele estavam disponíveis.
Pela Bandeirantes, nos 80, sua passagem foi inexpressiva.
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