São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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SEXUALIDADE
Conselho define atitude de psicólogo
Norma orienta sobre homossexualismo

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Psicólogos que tratarem a homossexualidade como doença ou contribuírem, de qualquer forma, para a discriminação ou estigmatização dos homossexuais, serão punidos pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Uma norma de conduta sobre a questão acaba de ser divulgada pelo conselho em forma de resolução.
Ana Mercês Bahia Bock, presidente do CFP, disse que os princípios da norma já constam do código de ética dos psicólogos e que a resolução não significa que estaria havendo desobediência. "O que há é uma inquietação na sociedade em torno de práticas sexuais desviantes da norma estabelecida e os psicólogos podem e devem contribuir para o esclarecimento e a superação de preconceitos e discriminações", disse.
A necessidade do debate e da resolução -segundo a presidente- surgiu de denúncias feitas por grupos homossexuais, especialmente depois da realização do 3º Encontro Cristão sobre Homossexualismo, em junho passado, em Viçosa (MG). O encontro teve o apoio do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristão (CPPC), uma entidade que reúne mais de 300 profissionais e cuja proposta é "ajudar pessoas que estejam em crise de identidade sexual".
O psicólogo Guilherme Falcão, um dos diretores do CPPC, disse ontem que "a resolução ainda será debatida internamente".
Outra preocupação do Conselho de Psicólogos é com profissionais que sugerem a "cura" da homossexualidade na mídia e na Internet.
O psicólogo , melhor que qualquer outro profissional, sabe que a homossexualidade não constitui doença ou perversão e que não deve passar ao paciente suas crenças e preconceitos.
Na prática, o conselho tem pouca informação e quase nenhum controle sobre o que acontece entre as quatro paredes dos consultórios dos cerca de 70 mil psicólogos na ativa. Em princípio -diz a presidente Ana Bock-, todo paciente que se sentir prejudicado pela conduta de seu psicólogo pode levar sua queixa ao conselho. Quase ninguém faz isso: o conselho regional de São Paulo, onde estão 48% dos psicólogos, tem apenas 15 processos éticos em andamento. A título de comparação, o CRM, conselho dos médicos de São Paulo, recebeu 1.874 denúncias no ano passado.
Um levantamento que vem sendo conduzido pela Rede de Informação Um Outro Olhar, ONG que reúne lésbicas, revela que falhas de condutas, preconceito e discriminação contra homossexuais são frequentes. "Das cerca de 550 lésbicas que fizeram ou fazem análise, 40% não informaram sua opção sexual por temer alguma reação", diz Luiza Granado, uma das coordenadores da ONG. Essas pacientes foram cuidadas -ou estão sendo cuidadas- como se fossem heterossexuais.
Dentre as pacientes que revelaram ser lésbicas, mais da metade relataram ter sofrido algum tipo de preconceito, afirma Luiza.


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