São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 2000


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SAÚDE
Mortalidade da doença aumenta 84,43% entre mulheres, no período 80-97; campanha vai atacar cigarros
Cresce morte por câncer de pulmão

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Problemas na pele lideram; no pulmão, devem matar mais


PEDRO DANTAS
da Sucursal do Rio

O índice de mulheres mortas por câncer de pulmão aumentou 84,43% de 1980 a 1997 no Brasil. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que divulgou ontem a estimativa anual da incidência e mortalidade por câncer no país. O instituto aponta o cigarro como a maior causa isolada da doença.
Segundo os dados do instituto, de cada 100 mil mulheres, 2,57 morreram de câncer de pulmão em 1980. Em 1997, esse índice saltou para 4,74.
Também foi registrado aumento de mortes em homens por câncer de pulmão, mas o crescimento foi menor -43,01%. Em 1980, de cada 100 mil homens, 8,37 morreram deste tipo de câncer. Em 1997, esse número cresceu para 11,97.
Epidemiologistas do Inca apontaram que as mortes por câncer de pulmão nos homens são maiores porque eles começam a fumar mais cedo.
Presente no lançamento do estudo do Inca no Rio, o ministro da Saúde, José Serra, afirmou que em 31 de maio, dia nacional de luta contra o tabagismo, o governo lançará mais uma ofensiva contra a indústria do cigarro.
Segundo o ministro, a campanha terá outdoors e outros recursos. "Criamos uma marca fictícia de cigarro americano e vamos explorar o fato de um dos cowboys da propaganda de cigarros ter morrido em consequência de câncer de pulmão", afirmou.
O estudo do Inca conclui que a elevação da taxa de mortalidade por câncer de pulmão entre a população do sexo feminino está ligada à disseminação do hábito de fumar entre as mulheres.
"Não quero ser politicamente incorreto, mas vejo relação (do aumento das mortes) com a inserção da mulher no mercado de trabalho e a imitação de hábitos masculinos", disse Serra.
O levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 1989 apontou um contingente de 30,6 milhões de fumantes e 80 mil mortes por ano provocadas pelo tabagismo.
O ministro criticou a demora do Congresso Nacional em aprovar a lei que amplia a faixa horária de proibição de propagandas de cigarro até as 23h. Atualmente, a proibição vai até as 22h.

Câncer de mama
Apesar das campanhas preventivas, o estudo detectou ainda um aumento na taxa de mortalidade por câncer de mama. Em 1980, de cada 100 mil mulheres, 6,14 morreram deste tipo de câncer. Em 1997, esse número pulou para 9,31. O instituto estima que 9,78 mulheres em cada grupo de 100 mil morrerão de câncer de mama neste ano.
Segundo o estudo, o aumento de mortes em decorrência de câncer de mama é uma tendência em regiões mais desenvolvidas, onde a urbanização levou ao aumento dos fatores de risco, como a idade maior da mulher na primeira gravidez e a obesidade.
Para tentar evitar piores consequências, a solução é a detecção precoce da doença, evitando-se, assim, mutilações e mortalidade. O ministério recomenda que as mulheres façam auto-exame das mamas mensalmente e um exame clínico anual, feito por um profissional de saúde treinado, que identificará a necessidade de mamografia.
Assim como o câncer de mama, a taxa de mortalidade do câncer de próstata aumentou, entre 1980 e 1997, de 3,89 em cada 100 mil homens, para 8,41.
"O perfil do morto por câncer de próstata reflete o perfil dos óbitos por câncer. O indivíduo idoso, fumante, sedentário, mal-alimentado, estressado e que não realiza exames preventivos", afirmou a chefe de epidemiologia da Coordenação Nacional do Controle do Tabagismo e da Vigilância e Prevenção do Câncer, Valeska Figueiredo.
Mas nem todos os índices apresentados ontem pelo Inca são negativos. De acordo com o instituto, a queda no consumo de alimentos que podem provocar câncer, como enlatados, defumados e sal, e o aumento de consumo de frutas e vegetais frescos resultaram na diminuição de casos de câncer de estômago. Com relação aos homens, houve queda de 12,13% de 1980 a 1997 na taxa de mortalidade. Entre as mulheres, a diminuição foi menor -8,46%.
Serra, porém, disse que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária está andando com "passos de tartaruga" para colocar a tarja de advertência em alimentos associados a este tipo de câncer.
Com relação ao câncer do colo do útero, as taxas de mortalidade não caíram e continuam estáveis, diferentemente de países desenvolvidos. Esse tipo de câncer pode ser prevenido por meio de exame papanicolau e curado quando tratado precocemente.


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