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ANÁLISE
Cobranças mostram ganância hospitalar
MARIA INÊS DOLCI
COLUNISTA DA FOLHA
Hospitais privados são casas
de saúde, não se equiparam a
outros ramos de negócios. Assim como escolas particulares
podem e devem ser lucrativas,
pois são atividades econômicas, mas devem atuar dentro de
determinados limites, em termos de cobrança de serviços.
Refiro-me, por exemplo, à
exigência para quem quer filmar o parto familiar ter de contratar empresa indicada pelo
hospital. As instituições alegam
que não podem permitir que
qualquer um filme, pois haveria
risco de contaminação.
Ora, este argumento valeria
se houvesse opções de diferentes preços, mas não é o que
ocorre. O consumidor fica refém, porque, qual é a família
que não deseja ter registro filmado do nascimento do filho?
Também há hospitais que cobram a "taxa de paramentação", quantia para a presença
de acompanhante.
Novamente, a alegação não
convence: seria para bancar o
custo de limpeza e higienização
da roupa do acompanhante.
Há relatos de pais que, surpreendidos pela cobrança e
sem dinheiro para mais esse
gasto, foram impedidos de
acompanhar o parto.
A saúde é um problema seríssimo no Brasil. Pagamos impostos, presumivelmente, para
ter também saúde, mas ai de
quem não contar com um plano
privado.
Pagamos duas vezes pelo
mesmo serviço. E nem assim
teremos a garantia de atendimento de qualidade.
Hospitais têm diversas fontes de renda: do SUS (público),
das operadoras de planos de
saúde e das seguradoras que
atuam nesse segmento. Também atendem pessoas que não
têm planos nem seguro, e que
pagam do próprio bolso contas
recheadas de números.
Não vejo razão em cobrar filmagem, fotografia e taxa de paramentação, como forma de
aumentar a receita.
O próprio tratamento diferenciado, a hotelaria hospitalar, não me parecem o mais
adequado. Cobrar serviços como se fosse hotel não torna um
hospital mais eficiente em sua
atividade fim. E cria castas, como se isso já não houvesse em
excesso no Brasil.
Ir com menos sede ao pote seria mais correto para quem tem
a saúde e a vida das pessoas, literalmente, em suas mãos.
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