São Paulo, domingo, 25 de abril de 2010

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ANÁLISE

Cobranças mostram ganância hospitalar

MARIA INÊS DOLCI
COLUNISTA DA FOLHA

Hospitais privados são casas de saúde, não se equiparam a outros ramos de negócios. Assim como escolas particulares podem e devem ser lucrativas, pois são atividades econômicas, mas devem atuar dentro de determinados limites, em termos de cobrança de serviços.
Refiro-me, por exemplo, à exigência para quem quer filmar o parto familiar ter de contratar empresa indicada pelo hospital. As instituições alegam que não podem permitir que qualquer um filme, pois haveria risco de contaminação.
Ora, este argumento valeria se houvesse opções de diferentes preços, mas não é o que ocorre. O consumidor fica refém, porque, qual é a família que não deseja ter registro filmado do nascimento do filho?
Também há hospitais que cobram a "taxa de paramentação", quantia para a presença de acompanhante.
Novamente, a alegação não convence: seria para bancar o custo de limpeza e higienização da roupa do acompanhante.
Há relatos de pais que, surpreendidos pela cobrança e sem dinheiro para mais esse gasto, foram impedidos de acompanhar o parto.
A saúde é um problema seríssimo no Brasil. Pagamos impostos, presumivelmente, para ter também saúde, mas ai de quem não contar com um plano privado.
Pagamos duas vezes pelo mesmo serviço. E nem assim teremos a garantia de atendimento de qualidade.
Hospitais têm diversas fontes de renda: do SUS (público), das operadoras de planos de saúde e das seguradoras que atuam nesse segmento. Também atendem pessoas que não têm planos nem seguro, e que pagam do próprio bolso contas recheadas de números.
Não vejo razão em cobrar filmagem, fotografia e taxa de paramentação, como forma de aumentar a receita.
O próprio tratamento diferenciado, a hotelaria hospitalar, não me parecem o mais adequado. Cobrar serviços como se fosse hotel não torna um hospital mais eficiente em sua atividade fim. E cria castas, como se isso já não houvesse em excesso no Brasil.
Ir com menos sede ao pote seria mais correto para quem tem a saúde e a vida das pessoas, literalmente, em suas mãos.


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