São Paulo, sábado, 25 de abril de 1998

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Soro balanceado pode salvar sequestradores

CARLA CONTE
da Reportagem Local

O uso de alimentação parenteral (soro balanceado) pode garantir a sobrevivência dos sequestradores do empresário Abílio Diniz, que entram hoje no 12º dia de greve de fome. Essa alimentação, dada por meio da veia, contém substâncias que o organismo precisa, como glicose, proteína, vitaminas, sais, carboidratos etc.
Já o soro glicosado (com glicose) não é suficiente para manter a vida. Ele prolonga a sobrevivência, mas a desnutrição continua.
"O soro é uma solução apenas temporária", afirma Sílvia Franciscato Cozzolino, professora de nutrição humana da Faculdade de Ciências Biomédicas da USP.
Porém os sequestradores não admitem ainda receber soro nem alimentação parenteral.
A possibilidade de o organismo reagir e fazer com que eles voltem a comer instintivamente é praticamente nula.
Segundo Adriano Segal, coordenador do ambulatório de obesidade do Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares) do Hospital das Clínicas, mesmo com o instinto de sobrevivência, dificilmente o grupo vai quebrar o jejum. "Quanto mais tempo eles ficam sem comer, mais se acostumam à privação. Eles certamente continuam sentindo fome, mas o pior é no início."
Se o grupo decidir voltar a comer, é preciso orientação médica. "Não é possível, da noite para o dia, voltar a comer na mesma quantidade de antes. Eles nem vão aguentar comer tudo isso. É preciso ter uma readaptação paulatina, um pouco de cada vez."
Mas até que ponto o organismo aguenta uma greve de fome? Os médicos divergem quanto ao tempo que um paciente resiste. "Em média, podemos dizer que um paciente aguenta ficar sem comer por 60 dias", afirma Segal.
"Teoricamente, uma pessoa de 70 kg tem subsídios energéticos para aguentar uma greve de fome por 90 dias. Mas ninguém chega a esse ponto, porque acontecem outros problemas antes disso", afirma Rui Curi, professor do departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
Esses problemas são principalmente as infecções. Inicialmente, o organismo tira do fígado glicose. O órgão armazena o glicogênio, que é uma espécie de reserva de glicose, que dura para um jejum de 12 horas. O organismo também tira energia da gordura do tecido adiposo, o que posteriormente pode provocar formação de substâncias tóxicas para o organismo, e do tecido muscular.
Porém, com todos esses mecanismos, cai a resistência do paciente, que fica mais sujeito a infecções. "Com o corpo debilitado desse jeito, mais a infecção, a pessoa pode morrer", afirma Curi.
Os médicos ouvidos pela Folha afirmam que não é possível prever se a greve de fome deixará sequelas. O paciente pode vir a ter problemas no pulmão ou no sistema nervoso, por exemplo.
"Isso depender muito de cada organismo. Não temos como antever que parte do corpo pode se comprometer", diz Sílvia.



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