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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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POLÍCIA

Empresários são acusados de envolvimento em esquema de carros roubados, falsificação de dólares e golpes imobiliários

Criadores do dossiê Caribe são presos em São Paulo

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Criadores e vendedores do chamado dossiê Caribe, os empresários João Roberto Barusco, 44, Ney Lemos dos Santos, 49, e Luiz Claudio Ferraz da Silva, 60, foram presos em São Paulo acusados de envolvimento em esquema de carros importados roubados, na falsificação de dólares e em golpes imobiliários aplicados no litoral.
O dossiê é um conjunto de cópias de papéis, sem autenticidade comprovada, divulgados na campanha eleitoral de 98, que sugeriam a existência de uma conta no exterior em nome de membros da alta cúpula do PSDB, entre eles o então presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador paulista Mário Covas e os ministros José Serra (Saúde) e Sérgio Motta (Comunicações).
Até 2001, não se sabia se os supostos documentos eram verdadeiros ou não. A Folha, que noticiou o caso, foi o primeiro jornal a divulgar a falsidade do principal documento do dossiê: um extrato bancário no valor de US$ 352,971 milhões em nome da CH, J & T -a suposta empresa dos tucanos-, no banco de investimentos Schroders na Suíça.
Na última quarta-feira, os três foram detidos pelo Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos) em uma operação montada para pegar um traficante que estaria agindo na região de Moema (zona sul).
O suspeito, no caso, era Jair Gomes Freire, 49, atual "sócio" de Barusco e Santos, que acabou preso dirigindo um Jaguar ano 2000, roubado em abril do ano passado em Curitiba. "Ele usou um espelho [impresso] quente para trocar a placa do carro em São Paulo", disse o delegado Pascoal Ditura, 49, que coordenou a ação.
No veículo, a polícia ainda apreendeu uma porção de maconha atrás do banco traseiro.
Os trio estaria negociando carros roubados ou contrabandeados com documentos falsos.
Barusco, Santos e Silva foram detidos em seguida. No escritório deles, o Denarc apreendeu documentos que podem ter servido para golpes, como o caso de uma casa negociada no Guarujá, e um quadro do pintor Di Cavalcanti, que pode ser falsificado.
No final da operação, segundo o delegado Ivaney Cayres de Souza, diretor do departamento, os policiais apreenderam US$ 50 mil dólares em notas falsas na casa da namorada de Freire. O dinheiro faria parte de um lote de US$ 1 milhão encomendado por eles em uma gráfica de Ponta Porã (MS, na fronteira com o Paraguai).
A quantia, de acordo com a polícia, seria usada na compra de um hangar na capital. Porém, devido à qualidade ruim das notas de US$ 100, a maior parte do lote teria sido devolvida à gráfica.
A pedido da polícia, a Justiça de São Paulo decretou a prisão temporária dos quatro. Eles foram autuados por receptação e formação de quadrilha, mas também serão investigados pelo uso de dinheiro e de documentos falsos.
Anteontem, o Denarc ainda desconhecia o quanto o escritório comercial deles havia faturado com os negócios dos carros importados ou roubados. Três veículos foram apreendidos.
Freire, detido com o carro roubado no Paraná, não quis dar entrevista à Folha. "Estou sendo ameaçado [pelos ex-sócios] e não tenho nada a falar", afirmou.
Barusco disse que sua empresa foi usada por Freire para os golpes descobertos pela polícia, os quais ele ignorava. "Eu não sabia de nada. Meu sócio [Santos] o trouxe para trabalhar com a gente." Só com o dossiê Caribe, o empresário disse ter faturado cerca de US$ 500 mil em 98. Freire não quis falar sobre as acusações. Silva negou envolvimento no caso.
No escritório dos acusados, o Denarc apreendeu ainda arquivos de computador contendo um livro que Barusco está concluindo sobre o dossiê Caribe (veja texto nesta página). É um relato sobre como foram criados os falsos documentos, em Miami, que teriam sido adquiridos pela família do ex-presidente Fernando Collor. O preço da transação, diz ele: US$ 2,2 milhões pagos em cheque.

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