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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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SAÚDE

Substância corrosiva "queima" o esôfago e deixa sequelas; produto de limpeza é vice-líder no ranking de intoxicações

Soda cáustica causa lesão grave em criança

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

As intoxicações causadas por produtos de limpeza, especialmente os que contêm soda cáustica, são as que mais deixam sequelas nas crianças com menos de cinco anos de idade. Por ser altamente tóxica e corrosiva, a soda cáustica provoca graves lesões no esôfago. Nos casos mais graves, pode levar à morte.
Para toxicologistas e pediatras, a situação tem se agravado com a proliferação dos produtos sanitários clandestinos, que já respondem por um terço do consumo no país, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Em geral, esses produtos têm na sua composição substâncias tóxicas em excesso.
Os produtos de limpeza ocupam o segundo lugar no ranking das intoxicações que vitimam crianças com menos de cinco anos no Brasil. Foram 2.339 casos em 2001, 19% do total de intoxicações nessa faixa etária, segundo dados parciais do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Esses números referem-se a 13 dos 31 centros que compõem o Sinitox.
Os remédios foram responsáveis por 38% dos casos de intoxicações infantis. Desde 1997, eles estão no topo do ranking (leia texto abaixo). Segundo Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, nos dois casos, o principal motivo da intoxicação é o mesmo: o descuido dos pais, que deixam remédios e produtos de limpeza ao alcance das crianças, associado às embalagens inseguras.
O caso de Lucas, 3, é um exemplo típico. Ele encontrou uma garrafa plástica de guaraná perto do tanque e, imediatamente, levou-a à boca. O líquido era água sanitária, que provocou queimadura na boca e no esôfago. "Agora, tranco tudo no armário", diz a mãe, Maria Caetano, 32.
Segundo a médica toxicologista Darciléa Alves do Amaral, coordenadora do Centro de Controle de Intoxicações da Prefeitura de São Paulo, que funciona no Hospital Jabaquara (zona sul), a água sanitária esteve presente em 37% dos casos de intoxicações por produtos de limpeza atendidos pelo serviço em 2002.
Em segundo lugar no ranking, vieram os removedores de cera e de gordura, com 14%, e, em terceiro, a soda cáustica, com 8%.
A maior parte dos envenenamentos, diz Amaral, ocorre no horário do almoço, das 10h às 14h, período em que a criança está com fome e a mãe, ocupada.
Segundo os médicos, os pais não devem induzir o vômito nas crianças. Se o produto ingerido tiver querosene, por exemplo, o vômito aumenta a possibilidade de aspiração da substância, o que pode causar grave pneumonia.
Água sanitária e produtos que contenham soda cáustica também não devem ser vomitados, pois queimam a mucosa do aparelho digestivo.
A queimadura, especialmente a provocada pela soda cáustica, pode causar lesões na língua, boca, faringe e laringe, além de estenose (estreitamento) do esôfago, afirma Vera Sdepanian, professora de gastroenterologia infantil da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), na capital paulista.
Nesses casos, diz Sdepanian, é preciso dilatar o esôfago e introduzir vários tubinhos para aumentar o órgão. O procedimento tem de ser repetido várias vezes porque, com a cicatrização, o canal volta a diminuir, causando problemas na deglutição. Dependendo do grau da lesão, é preciso colocar uma sonda.
Segundo José Américo de Campos, presidente do departamento de segurança na infância da Sociedade Brasileira de Pediatria, é desaconselhável dar leite à criança. "O leite empurra o produto tóxico e dificulta a lavagem estomacal."

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