São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2005

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ARTE URBANA

Objetivo do projeto da Secretaria Estadual de Cultura é estimular a criação de obras no centro de São Paulo

Ateliê coletivo na Luz quer refletir sobre "cracolândia"

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Na última quinta-feira, Francisco Coelho, 48, chegou àquela que será, até o fim deste ano, sua nova casa: um sobrado no largo General Osório, no perímetro da "cracolândia", que é conhecida como uma das regiões mais degradadas do centro de São Paulo. Janelas abertas, malas desfeitas, ele deu início ao trabalho que o levou ali. Francisco, ou Chico, como prefere ser chamado, é um dos nove artistas plásticos escolhidos para integrar o Ateliê Amarelo.
O casarão foi alugado pela Secretaria Estadual de Cultura, reformado e, há seis dias, inaugurado como ateliê coletivo.
Chico, por ser do interior, foi morar no local -os demais usam o espaço só para trabalhar. "De dia, a região é bem movimentada, mas, à noite e no fim de semana, as ruas ficam vazias", diz Chico sobre a nova vizinhança.
São dez salas, além de um terraço na cobertura, e seus ocupantes têm como meta realizar, por meio de suas obras, uma reflexão social e poética do centro da cidade.
Nani Catta Preta, 56, por exemplo, quer registrar em aquarela imagens do centro que existem em suas lembranças de infância -valem desde pessoas e monumentos até a loja de chocolates Sonksen, que ela freqüentava, na rua 15 de Novembro.
A inspiração do projeto vem do "Diário de navegação", escrito no século 18 pelo português Teotônio José Juzarte. Ele participou de uma expedição pelos rios Tietê, Paraná e Iguatemi, com a missão de descrever, com detalhes, o caminho percorrido, para facilitar a futura ocupação do local.
"No livro dá para ver que ele sofreu o triplo do que deveria só pelo medo de entrar na mata, de fazer contato com os índios, por ignorar o que existia na floresta. E hoje a nossa barreira é a mesma, só que em relação ao centro da cidade. A gente não conhece, tem medo", compara Nani, que já começou a entrevistar as pessoas que vivem no entorno.
Instalado no segundo andar, Vinícius Berton, 34, desenvolve o projeto Sinalização Subjetiva, que prevê a instalação, em alguns pontos do centro, de placas com alertas para os problemas enfrentados na região. "A arte tem esse viés de conscientização", diz.
Para integrar as atividades do ateliê ao entorno, a idéia é fazer, ao longo do ano, intervenções artísticas no largo General Osório, afirma Silvia Antibas, diretora do Departamento de Museus e Arquivos da secretaria. Além disso, o espaço está diariamente aberto à visitação, das 8h às 19h.
Os projetos foram escolhidos por uma comissão presidida pela artista plástica Maria Bonomi, que foi premiada na Bienal de Paris, em 1967, e pôde usar um dos ateliês da Cité des Arts.
Segundo a secretaria, até o fim do ano, o projeto terá custado R$ 130 mil. Nesse valor, estão incluídos gastos com luz, água e segurança. Os artistas podem usar o espaço, mas não são pagos.


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