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ARTE URBANA
Objetivo do projeto da Secretaria Estadual de Cultura é estimular a criação de obras no centro de São Paulo
Ateliê coletivo na Luz quer refletir sobre "cracolândia"
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Na última quinta-feira, Francisco Coelho, 48, chegou àquela que
será, até o fim deste ano, sua nova
casa: um sobrado no largo General Osório, no perímetro da "cracolândia", que é conhecida como
uma das regiões mais degradadas
do centro de São Paulo. Janelas
abertas, malas desfeitas, ele deu
início ao trabalho que o levou ali.
Francisco, ou Chico, como prefere ser chamado, é um dos nove artistas plásticos escolhidos para integrar o Ateliê Amarelo.
O casarão foi alugado pela Secretaria Estadual de Cultura, reformado e, há seis dias, inaugurado como ateliê coletivo.
Chico, por ser do interior, foi
morar no local -os demais usam
o espaço só para trabalhar. "De
dia, a região é bem movimentada,
mas, à noite e no fim de semana,
as ruas ficam vazias", diz Chico
sobre a nova vizinhança.
São dez salas, além de um terraço na cobertura, e seus ocupantes
têm como meta realizar, por meio
de suas obras, uma reflexão social
e poética do centro da cidade.
Nani Catta Preta, 56, por exemplo, quer registrar em aquarela
imagens do centro que existem
em suas lembranças de infância
-valem desde pessoas e monumentos até a loja de chocolates
Sonksen, que ela freqüentava, na
rua 15 de Novembro.
A inspiração do projeto vem do
"Diário de navegação", escrito no
século 18 pelo português Teotônio José Juzarte. Ele participou de
uma expedição pelos rios Tietê,
Paraná e Iguatemi, com a missão
de descrever, com detalhes, o caminho percorrido, para facilitar a
futura ocupação do local.
"No livro dá para ver que ele sofreu o triplo do que deveria só pelo medo de entrar na mata, de fazer contato com os índios, por ignorar o que existia na floresta. E
hoje a nossa barreira é a mesma,
só que em relação ao centro da cidade. A gente não conhece, tem
medo", compara Nani, que já começou a entrevistar as pessoas
que vivem no entorno.
Instalado no segundo andar, Vinícius Berton, 34, desenvolve o
projeto Sinalização Subjetiva, que
prevê a instalação, em alguns
pontos do centro, de placas com
alertas para os problemas enfrentados na região. "A arte tem esse
viés de conscientização", diz.
Para integrar as atividades do
ateliê ao entorno, a idéia é fazer,
ao longo do ano, intervenções artísticas no largo General Osório,
afirma Silvia Antibas, diretora do
Departamento de Museus e Arquivos da secretaria. Além disso,
o espaço está diariamente aberto
à visitação, das 8h às 19h.
Os projetos foram escolhidos
por uma comissão presidida pela
artista plástica Maria Bonomi,
que foi premiada na Bienal de Paris, em 1967, e pôde usar um dos
ateliês da Cité des Arts.
Segundo a secretaria, até o fim
do ano, o projeto terá custado R$
130 mil. Nesse valor, estão incluídos gastos com luz, água e segurança. Os artistas podem usar o
espaço, mas não são pagos.
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