São Paulo, segunda, 25 de maio de 1998

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DROGAS 2
Especialistas dizem que cigarro é mais prejudicial
Maconha prejudica memória e hormônio

da Reportagem Local

A maconha é, por muitos médicos, considerada menos prejudicial à saúde que o tabaco. O problema da droga é mais social do que físico.
"Os dois causam danos de alguma maneira, mas o prejuízo provocado pelo cigarro é muito mais rápido e agressivo ao físico", diz Anthony Wong, chefe do Centro de Assistência Toxicológica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Com o uso prolongado da maconha, o usuário está sujeito a um prejuízo de memória, que pode se agravar ao longo dos anos.
Outro possível dano da maconha, segundo os médicos, é a alteração hormonal -queda dos níveis de testosterona (hormônio masculino) e diminuição na taxa de espermatozóides -, quadro que é reversível.
No entanto, se utilizada na mesma quantidade que o tabaco, a maconha pode causar os mesmos danos -sendo até cancerígena.
"É raro alguém consumir maconha nas mesmas proporções que consome o cigarro", afirma o psiquiatra e diretor do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes de Drogas), Dartiu Xavier da Silveira.
De acordo com Elisaldo Carlini, diretor do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), os problemas orgânicos associados ao uso da maconha aparecem de forma lenta e têm menor risco.
O uso do tabaco, ao contrário, pode levar a distúrbios brônquicos, infarto do miocárdio e aumento da probabilidade de câncer do pulmão.
Dependência
A maconha não causa dependência física e, portanto, não provoca violentas crises de abstinência, como acontece com consumidores de álcool, cocaína e, em menor proporção, de tabaco.
Quem pára de fumar tabaco costuma sentir irritabilidade, ansiedade, inquietação e insônia. Segundo Carlini, a interrupção do uso da maconha também pode produzir, em algumas pessoas, irritabilidade e ansiedade.
"A abstinência no uso da maconha, porém, não provoca sintomas intensos", afirma.
Os efeitos psicológicos ou sociais da maconha, no entanto, levam desvantagem se comparados com os do tabaco.
"Se utilizada em grandes quantidades, a droga pode fazer com que o usuário se torne uma pessoa apática, indiferente à sociedade, o que não acontece com o tabaco", diz Silveira.
O tabaco não causa incapacitação social, como acontece com usuários de cocaína, de crack e de álcool. Em relação à maconha, a incapacitação é bem menor, mas o risco existe, segundo Carlini.
Algumas pessoas que utilizam a maconha com grande frequência, diz, acabam tornando difícil a manutenção de atividades produtivas ou mesmo de relacionamentos afetivos. (PRISCILA LAMBERT)


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