São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2001

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AMBIENTE

Empresas vão gerar eletricidade a partir do metano expelido em dois depósitos de lixo da cidade de São Paulo

Gás produzido em aterros vai virar energia

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Unir o útil ao agradável. Tendo esse objetivo em mente, a Prefeitura de São Paulo fechou contrato com duas empresas para, até o fim do ano, dar uma destinação ambientalmente correta para o gás metano (CH4) expelido pela degradação do lixo nos aterros sanitários da cidade, usando-o como fonte alternativa de energia.
Apesar de terem notas boas de IQR, Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos, usado para avaliar a qualidade da destinação do lixo, os aterros São João e Bandeirantes nunca trataram o metano.
Produzido naturalmente na decomposição da matéria orgânica, por ação do ar, da luminosidade, da umidade ou de bactérias, o gás é simplesmente jogado na atmosfera, onde muitas vezes se queima espontaneamente e provoca danos ambientais e à saúde.
O metano é um dos gases que contribuem para o aumento do efeito estufa -o aprisionamento da radiação solar na atmosfera, que provoca o aquecimento excessivo do planeta, mudanças climáticas e, a longo prazo, pode causar tragédias como a inundação de cidades litorâneas.
A queima incompleta do gás -como a que acontece quando ele entra em contato com o oxigênio do ar- produz monóxido de carbono (CO), que é tóxico.
Aproveitando-se da atual crise no setor energético, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do município conseguiu interessados para tocar um projeto que estava na "gaveta" desde a gestão Paulo Maluf (1993-1996).
A geração de energia serviu como compensação econômica. As empresas que venceram a licitação não receberão nenhum centavo para transformar lixo em eletricidade. O ganho virá com a venda de energia para a Eletropaulo (companhia distribuidora).
A estimativa oficial é que os gases captados no São João e no Bandeirantes gerem juntos 14 mil kWh -quantidade de energia suficiente para abastecer cerca de 14 mil casas de classe média.
As empresas que farão a conversão do gás em eletricidade vão produzir exatamente o que a prefeitura consome em seus prédios e devolver essa energia gasta à rede. Foi a forma de enquadrar a "planta de metano" às regras de produção da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
A Enterpa Engenharia Ambiental será responsável pelo processo no aterro São João, e a Biogás Energia Ambiental S.A. fará a conversão no Bandeirantes.
A prefeitura, por sua vez, também terá um lucro, além do ambiental. Para explorar o metano, as empresas pagarão, cada uma, um valor simbólico de R$ 3.500. A Secretaria de Serviços e Obras, que cuida da destinação do lixo, também irá economizar por não ter mais de fazer alguns serviços de manutenção nos aterros.
Na Europa e nos Estados Unidos, o uso do lixo orgânico para geração de energia é mais comum. Nesses casos, porém, o uso do metano já foi em grande parte substituído pela queima direta dos resíduos, cujo poder calorífico é maior que o do gás.
O projeto a ser desenvolvido em São Paulo começa com a captação do gás por meio de tubos subterrâneos no aterro e sua canalização para uma estação de controle.
Lá são controlados fatores de risco como o teor de oxigênio (O2) em contato com o metano, de forma que ele não fique numa concentração tão alta a ponto de provocar uma explosão.
Depois disso, o metano é purificado, para que sejam eliminadas substâncias como o gás carbônico (CO2) e impurezas, também produto da degradação do lixo, mas que não são combustíveis.
Finalmente, o gás vindo do lixo é canalizado para uma pequena usina, onde fará funcionar um motor de combustão ao qual está acoplado um gerador de energia.
Outras alternativas possíveis para o metano são a sua compressão e posterior utilização como combustível em carros e sua aplicação na indústria para aquecimento de caldeiras, por exemplo. Tais usos não estão previstos nos atuais contratos, mas são cogitados pelos técnicos da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.



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