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São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

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7,7 milhões já usaram ecstasy

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 7,7 milhões de pessoas consomem ou consumiram ecstasy no mundo todo. Eles representam menos de 0,2% da população acima de 15 anos.
Na América do Sul não passam de 310 mil pessoas -no Brasil, proporcionalmente, seriam cerca de 100 mil os que tomam ou já experimentaram a droga.
É um número insignificante perto dos consumidores de maconha, cocaína e crack, que somam milhões.
Os números internacionais constam do relatório "Drogas Ilícitas: Tendências Globais 2003", que o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes divulgará amanhã.
Pelo relatório, a Europa tem 3,25 milhões de consumidores de ecstasy, enquanto na América do Norte são 3,46 milhões os usuários dessa droga.
Sessenta e três países reportaram abuso do ecstasy e 28 registraram uso pela primeira vez.
"No Brasil, a preocupação maior é de longe a cocaína e a sua relação com o tráfico de armas", diz Giovanni Quaglia, diretor do escritório das Nações Unidas para o Brasil e o Cone Sul.
"Mas as drogas sintéticas preocupam porque são fáceis de produzir, não requerem tecnologia sofisticada e os laboratórios podem ser montados em qualquer cidade." Por tudo isso, Quaglia diz que há "uma preocupação séria" com esse tipo de droga.

Última prioridade
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Proad, um programa de estudo e tratamento de drogas criado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que, em termos de saúde pública para as drogas, o "ecstasy é a última prioridade".
Isso porque, além do consumo muito restrito, essa droga cria dependência em menos de 1% de quem a consome. No caso da cocaína chega a 40% e, no do crack, passa dos 60% o risco de criar dependência.
"Os perigos do ecstasy ocorrem durante seu uso. Por isso, o melhor a fazer é reduzir os danos, como se faz na Europa, arejando o local e informando as pessoas para que bebam muita água."
O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, diretor da Uniad, Unidade de Álcool e Drogas da Unifesp, observa que as drogas sintéticas avançam mais rapidamente nos países onde há maior repressão e dificuldade de consumo das chamadas drogas naturais (que exigem plantações e preparo).
"No Brasil, a cocaína e a maconha são baratas e fáceis de ser obtidas. Estamos vivendo aqui o que a Europa viveu uma década atrás, e a tendência é que o país venha a conviver com os dois tipos de droga dentro de alguns anos." No Japão e no Egito, por exemplo, as drogas sintéticas já são mais usados do que as naturais.
Laranjeira, que também preside a Abead, Associação Brasileira de Álcool e Drogas, diz que as substâncias sintéticas provocam maior efeito neurotóxico, alterando substâncias do centro do prazer, como a serotonina e a dopamina. Seu uso pode levar a complicações psiquiátricas, como depressão e irritabilidade.
Quanto à decisão da polícia de infiltrar agentes nas festas da moçada, Laranjeira não vê muita utilidade. "Os grandes traficantes não vão às festas", diz.


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