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Delegado foi vereador por 8 anos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado José Bocamino, preso anteontem pela Operação Lince, assumiu a chefia da delegacia
da Polícia Federal em Ribeirão
Preto em 2000 com um currículo
ímpar: passara os oito anos anteriores como vereador em Santa
Rita do Passa Quatro, cidade de
26 mil habitantes. Na Câmara de
lá, a 85 km de Ribeirão, não apresentou nem um projeto de lei.
Só voltou à PF porque perdera a
eleição na sua cidade natal -em
2000, recebera 311 votos. No seu
segundo mandato (1997-2000),
Bocamino tivera votação ainda
menor (266 votos), mas os votos
que o seu partido recebeu, o PPB
(hoje PP), garantiram sua eleição.
As assessorias da PF em Brasília
e São Paulo não souberam explicar por que um delegado que ficou oito anos fora da atividade foi
nomeado chefe da delegacia.
A delegacia de Ribeirão passou
a ser investigada em 2000. A PF de
Brasília recebera informações de
que Wilson Perpétuo, delegado
também preso anteontem, extorquira dinheiro de uma pessoa.
Em 2001, mais investigações sobre os dois delegados foram feitas.
O Ministério Público Federal em
Ribeirão diz que era investigação
de "rotina", mas a Folha apurou
que o ponto de partida fora o aumento do número de denúncias
contra ambos. Nesse ano, a corregedoria da PF em Brasília já se
preocupava com a dupla.
Bocamino não gostou de ver
procuradores pedindo informações sobre suas atividades. Foi ao
órgão e fez o que dois procuradores consideraram "ameaças". Ele
contou que havia aconselhado o
delegado-corregedor da PF Alcioni Serafim Santana a tomar cuidado e, como ele não lhe deu ouvidos, acabou assassinado, em 1998.
Em 2003, Bocamino foi apanhado por gravações em investigação
sobre contrabando de diamantes.
As fitas indicaram que ele se associara a Marcos Glikas, apontado como um dos maiores contrabandistas de diamantes no país.
Glikas foi preso em 8 de março
deste ano, quando, segundo a PF,
ele e Bocamino já tinham brigado.
Para policiais, o fato de ter saído
do grupo não livra o delegado do
crime de formação de quadrilha.
O advogado de Bocamino, Heráclito Mossin, diz estranhar o fato de a PF não ter apresentado
"prova cabal" sobre o envolvimento do seu cliente com diamantes, roubo de cargas e adulteração de combustível e, por isso,
questiona a prisão temporária.
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