São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Delegado foi vereador por 8 anos

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado José Bocamino, preso anteontem pela Operação Lince, assumiu a chefia da delegacia da Polícia Federal em Ribeirão Preto em 2000 com um currículo ímpar: passara os oito anos anteriores como vereador em Santa Rita do Passa Quatro, cidade de 26 mil habitantes. Na Câmara de lá, a 85 km de Ribeirão, não apresentou nem um projeto de lei.
Só voltou à PF porque perdera a eleição na sua cidade natal -em 2000, recebera 311 votos. No seu segundo mandato (1997-2000), Bocamino tivera votação ainda menor (266 votos), mas os votos que o seu partido recebeu, o PPB (hoje PP), garantiram sua eleição.
As assessorias da PF em Brasília e São Paulo não souberam explicar por que um delegado que ficou oito anos fora da atividade foi nomeado chefe da delegacia.
A delegacia de Ribeirão passou a ser investigada em 2000. A PF de Brasília recebera informações de que Wilson Perpétuo, delegado também preso anteontem, extorquira dinheiro de uma pessoa.
Em 2001, mais investigações sobre os dois delegados foram feitas. O Ministério Público Federal em Ribeirão diz que era investigação de "rotina", mas a Folha apurou que o ponto de partida fora o aumento do número de denúncias contra ambos. Nesse ano, a corregedoria da PF em Brasília já se preocupava com a dupla.
Bocamino não gostou de ver procuradores pedindo informações sobre suas atividades. Foi ao órgão e fez o que dois procuradores consideraram "ameaças". Ele contou que havia aconselhado o delegado-corregedor da PF Alcioni Serafim Santana a tomar cuidado e, como ele não lhe deu ouvidos, acabou assassinado, em 1998.
Em 2003, Bocamino foi apanhado por gravações em investigação sobre contrabando de diamantes.
As fitas indicaram que ele se associara a Marcos Glikas, apontado como um dos maiores contrabandistas de diamantes no país.
Glikas foi preso em 8 de março deste ano, quando, segundo a PF, ele e Bocamino já tinham brigado. Para policiais, o fato de ter saído do grupo não livra o delegado do crime de formação de quadrilha.
O advogado de Bocamino, Heráclito Mossin, diz estranhar o fato de a PF não ter apresentado "prova cabal" sobre o envolvimento do seu cliente com diamantes, roubo de cargas e adulteração de combustível e, por isso, questiona a prisão temporária.


Texto Anterior: Operação Lince: Chefe da PF de SP diz estar tranqüilo depois de prisões de subordinados
Próximo Texto: Promotor liga caso a grupo de extermínio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.