São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Tenente dá nova versão para morte dos 3 jovens

DA SUCURSAL DO RIO

O tenente Vinícius Ghidetti deu, em depoimento ao Exército, uma nova versão para a morte dos três rapazes no morro da Mineira, no dia 14. Ele disse ter sido agredido pelos jovens e responsabilizou o sargento Leandro Maia Bueno pelo contato com traficantes.
O depoimento, na sexta-feira, durou cinco horas. Ghidetti, 25, reafirmou que a intenção era dar um susto nos jovens, mas acrescentou detalhes até então desconhecidos.
Pelo novo relato, o tenente foi agredido por um grupo de moradores no morro da Providência. Um jovem teria o atacado após a revista de um suspeito, que portaria uma arma.
Ghidetti disse que reagiu com um tiro para o alto. A briga acabou e três dos envolvidos na confusão foram detidos por desacato. Nessa hora, o sargento se aproximou para indicar que, uma semana antes, um dos detidos havia ameaçado explodir uma granada na principal boca-de-fumo da Providência, ao ser abordado por militares.
Após os rapazes serem liberados pelo capitão Leandro Ferrari no quartel, o tenente decidiu dar um susto neles, soltando-os na entrada da Mineira, favela inimiga da Providência. Livres, eles teriam que correr para fugir dos traficantes.
O que deu errado, segundo o depoimento: o caminhão do Exército com os três presos entrou na Mineira sem que os 11 militares percebessem. Um soldado, então, viu traficantes armados. O sargento Bueno, por iniciativa própria, pôs o fuzil nas costas e andou em direção aos traficantes, acenando que estava ali em paz. Três deles apareceram para conversar.
Os traficantes teriam dito ao tenente que espancariam os rapazes e os libertariam. Entregues, os rapazes foram torturados e mortos com 46 tiros.
A Folha procurou ontem o advogado de Bueno, mas não conseguiu falar com ele.

Indiciamento
O capitão Leandro Ferrari sabia que Ghidetti daria um susto nos jovens, disse o delegado Ricardo Dominguez, que investiga o caso. Foi Ferrari que ordenou que os jovens fossem liberados.
"Ele [Guidetti] falou que ia dar uma volta com os rapazes e depois os liberaria." O capitão tentou evitar que Guidetti saísse, mas não o impediu, disse Dominguez. "O capitão saiu da base onde estava, foi até o tenente, que já estava na cabine do caminhão, e mandou que não fizesse aquilo, que era levar os jovens para dar uma volta. O capitão pode ter descumprido, sim [alguma norma], pelo fato de não ter contido o tenente."
Ele deve ser indiciado pelo Exército por prevaricação, disse o delegado. O Exército não confirmou. O capitão Ferrari também não foi localizado. (ST)

Colaborou LUÍSA BELCHIOR


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