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Moradores reviram lixo atrás de comida
Em Palmares (PE), grupo disputa produtos cheios de lama, como biscoitos, em mercado destruído pelas águas
Cheias causam alta dos preços de alimentos, água e produtos básicos; também faltam remédios nas farmácias
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PALMARES (PE)
O desespero dos moradores de Palmares (PE), uma
das cidades mais devastadas
pelas chuvas, é tão grande
que muitos reviram escombros em busca de comida.
Ontem, um grupo tentava
salvar o que podia do lixo de
um supermercado destruído
pelas águas. Na cidade, a 129
km de Recife, 5.550 pessoas
tiveram de deixar suas casas.
Enquanto funcionários retiravam lama, entulhos e
produtos avariados, dezenas
reviravam os restos chafurdados no lodo. Muitos se espremiam em frente às grades
da porta pedindo para que os
produtos fossem jogados em
cestas para ser reutilizados.
Josineire Maria de Souza,
37, enchia uma sacola com
pacotes de macarrão e de
goiabada. Sua sobrinha, de
12 anos, abria pacotes de biscoitos cobertos de lama.
A briga maior era por latas
de goiabada e leite em pó.
Mas até saquinhos de leite
sem refrigeração há quase
uma semana eram limpos na
barra da saia e recolhidos.
"É um horror ter que remexer esse lixo, mas não temos
saída", disse Maria Carmelina de Lima, 59.
INFLAÇÃO
As cheias trouxeram ainda
um efeito colateral amargo: a
alta dos preços de alimentos
e produtos básicos. Também
faltam medicamentos.
Em Palmares e na vizinha
Barreiros, ouvem-se queixas.
O galão de água chega a R$
10 -antes, era R$ 4.
Ainda sem energia, uma
vela simples é vendida na
Venda do Riuna, em Barreiros, por R$ 2. "Era o preço de
um pacote inteiro", diz o morador Itaci Saldanha.
O pacote de macarrão custa R$ 4, o dobro do valor da
última semana. Botas para
enfrentar a lama chegam a
R$ 50. Quem não pode pagar
usa sacos plásticos nos pés.
Segundo comerciantes, a
"inflação" se deve à perda de
estoques e ao fechamento
dos mercados. "Precisamos
reforçar a segurança com
medo de saques", diz Josué
Ribeiro, do Mercado Central.
Em Barreiros, o Mercado
da Cida espera que os estoques comecem a normalizar
amanhã, com a chegada de
produtos e a volta da luz.
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