São Paulo, quarta, 25 de junho de 1997.



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RODÍZIO
Evaporação de combustível pode ocorrer pela parede dos tanques; melhora do ar depende ainda de condições atmosféricas
Carro desligado também emite poluente

MAURO TAGLIAFERRI
da Reportagem Local

Seu carro tem placas com finais 5 ou 6 e, portanto, ficará na garagem hoje para obedecer ao rodízio antipoluição, certo? Pois saiba que, mesmo lá, parado e desligado, ele continua sendo uma fonte de emissão de poluentes.
De acordo com dados de 1996 da Cetesb, a agência ambiental paulista, 35% dos hidrocarbonetos que foram parar na atmosfera de São Paulo tinham origem na evaporação da gasolina dos tanques de combustível. Outros 9%, da evaporação de álcool.
Os dados se referem também aos veículos ligados, mas os especialistas admitem que o carro desligado não está excluído da conta.
"O carro parado está poluindo numa intensidade bem menor, mas está. E a evaporação leva para o ar os hidrocarbonetos, que são cancerígenos", disse o físico Délcio Rodrigues, coordenador de campanha do Greenpeace.
Os hidrocarbonetos são componentes orgânicos. Podem causar irritações nos olhos e aparelho respiratório e aumentar a incidência de câncer de pulmão.
A evaporação do combustível pode ocorrer pela parede dos tanques feitos de plástico, na linha de alimentação do motor e também pelo duto de "respiração" do tanque, segundo o engenheiro Francisco Dória, da General Motors.
O tanque precisa desse duto para a entrada de ar, à medida que o combustível é gasto.
Por força de lei, os veículos atuais têm sistemas que "filtram" os vapores exalados do tanque.
Um carro a gasolina modelo 1989, conforme informações do gerente de qualidade ambiental da Cetesb, Cláudio Alonso, emite, em média, 23 gramas de hidrocarbonetos num teste a que é submetido, parado, desligado, em câmara fechada e a uma temperatura estável.
Um veículo 96, por sua vez, exala 1,2 grama no mesmo teste. A lei federal que regula a questão estabelece como padrão de fabricação para carros a gasolina um máximo de seis gramas de emissão.
O fato de o veículo poluir mesmo desligado não deve, no entanto, servir como desestímulo ao rodízio. Obviamente, ligados, os carros poluem ainda mais. Pelos tubos de escapamento dos automóveis a gasolina saem 58% do gás carbônico que vai para a atmosfera da cidade, 22% dos hidrocarbonetos, 17% do óxido de nitrogênio, 18% do dióxido de enxofre e 9% das partículas inaláveis.
Outro fator de desconfiança são os boletins que registram, de um dia para o outro e apesar do rodízio, piora na qualidade do ar em certas regiões da metrópole.
"Na composição da poluição, há dois fatores: a fonte de emissão e os meios de dispersão. Há dias em que você diminui a emissão e a poluição piora, porque as condições meteorológicas são ruins para a dispersão", explicou Alonso.
Por condições ruins entenda-se falta de vento ou de chuva.
Segundo o professor Américo Sansigolo Kerr, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, o vento tem o poder de transportar para longe e diluir os poluentes.
Já a chuva remove as partículas poluidoras da atmosfera, levando-as para o solo.
"Se você reduz a emissão e o ar piora, aí já depende de um fator incontrolável, a atmosfera. Nesse caso, só Deus para controlar. Agora, o que a gente tem de fazer é reduzir a emissão em cerca de 60%, para não ficar dependendo da atmosfera, e o rodízio só reduz em uns 15%", ponderou Rodrigues.
"O rodízio não é solução para controlar em definitivo a emissão. Para isso, é preciso estimular o transporte coletivo", disse Kerr.



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