São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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TRANSPORTE

Permissionários reclamam de prejuízo com revenda e de falta de segurança; passageiros acham serviço satisfatório

Recarga de bilhete único divide usuários e lotéricas

CLAYTON FREITAS
DO "AGORA"

À parte as constantes reclamações dos donos de casas lotéricas em São Paulo -que consideram baixa a remuneração pelo serviço-, os processos de compra e de recarga de bilhetes únicos são avaliados como satisfatórios pelos usuários do serviço.
A reportagem percorreu 30 locais de venda e de recarga do cartão magnético -que permite ao usuário utilizar quantas linhas de ônibus quiser dentro do prazo de duas horas pagando o valor único de R$ 1,70. Em 29 delas não houve problemas nem filas.
Em apenas uma, a lotérica São Jorge, localizada na avenida M'Boi Mirim, em Piraporinha (zona sul), o permissionário estipulou um período de uma hora e meia por dia para que os usuários fizessem a recarga, o que dificultou a aquisição do produto.
Foram visitadas 25 casas lotéricas e cinco postos de venda da SPTrans (empresa que gerencia o transporte público na capital) em cinco regiões diferentes: norte, sul, leste, oeste e centro.
O bilhete único é uma das principais bandeiras da campanha da prefeita Marta Suplicy (PT) na tentativa de se reeleger. Pesquisa Datafolha, realizada em junho, apontou que o sistema é aprovado por 81% dos paulistanos.
"Eu não vou votar na Marta, mas acho que essa foi a única coisa boa que ela fez", afirmou a bancária Renata Scorsato, 21, que recarregou seu cartão na lotérica 15 de Novembro, na Sé (centro).
Se por um lado os usuários aprovam a venda da forma como está sendo feita, por outro os permissionários (donos de casas lotéricas) reclamam basicamente de dois pontos: a baixa remuneração pelo serviço e a falta de segurança, ocasionada pelo aumento do volume de dinheiro em caixa.
O Sincoesp (que reúne os proprietários de lotéricas) critica o que chama de "imposição" por parte da Caixa Econômica Federal, alegando, em comunicado oficial da diretoria, ser a tarifa "irrisória" e que os lucros não chegam sequer a cobrir os custos operacionais.
"O que lucrei não pagará o gasto extra que terei com a funcionária que vou contratar", afirmou Alberto Michalany, 46, da lotérica Karinha, na Consolação (centro).

Período limitado
A lotérica São Jorge estipulou horários para que os usuários comprem e recarreguem os bilhetes únicos. São 30 minutos pela manhã (das 8h30 às 9h) e uma hora à tarde (das 16h30 às 17h30), de segunda a sexta-feira.
A reportagem esteve no local às 15h30 da última quarta-feira e observou que havia um informe colado no vidro de uma das máquinas. "É um absurdo. Começo a trabalhar às 7h30 e só saio às 18h. Hoje consegui dar uma escapada e acontece isso", reclamou o mecânico Willian dos Santos, 18.
"Se eu não comprar aqui, vou ter de ir até o terminal Santo Amaro [distante 6 km]", disse a dona-de-casa Ana Paula Borges, 24. O responsável pela lotérica e funcionários foram procurados, mas não responderam às ligações até as 22h30 de sexta-feira.
Segundo a Caixa, a lotérica é obrigada a atender durante todo o período de funcionamento. Se não o fizer, pode sofrer desde advertência até descredenciamento.

Férias
De acordo com permissionários de casas lotéricas, desde que o bilhete único foi implantado em definitivo em São Paulo -dia 18 de maio-, o mês de julho está sendo o mais tranqüilo em termos de fluxo de usuários.
O fator principal se deve às férias escolares, segundo os lotéricos. "Outros meses estavam sendo um caos. Agora, melhorou", disse Rosa Rizzo, 52, da lotérica Tatuapé, no bairro da zona leste de mesmo nome.
Outra tendência detectada é que a procura pelo serviço aumenta entre os dias 2 e 10 de cada mês -datas que concentram o período em que grande parte dos usuários recebe seu salário.


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