São Paulo, sábado, 25 de julho de 2009

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Estudo sugere letalidade bem mais baixa

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Um novo estudo sugere que a taxa de letalidade (número de mortes por pessoas infectadas) da gripe A (H1N1) em circulação é significativamente menor do que o 0,4% que consta da literatura médica.
O artigo, assinado pelos epidemiologistas neozelandeses Nick Wilson e Michael Baker, foi publicado na revista "Eurosurveillance".
Usando quatro métodos diferentes para calcular a letalidade, os pesquisadores chegaram a valores que variam entre 0,06% e 0,0004%.
Se utilizarmos essas taxas para estimar o número de pessoas que já ficaram doentes no Brasil, teríamos, dadas as 33 mortes registradas até ontem, algo entre 55 mil e 8,3 milhões de pacientes. Pelo 0,4% de letalidade, o total de gripados pelo novo vírus não passaria de 8.250.

Cautela
A interpretação dos resultados exige cautela. Cada uma das técnicas empregadas apresenta limitações, e todas se baseiam em dados preliminares da epidemia. Ademais, o estudo pressupõe sistemas de atendimento médico de Primeiro Mundo.
O problema com a taxa de 0,4%, primeiramente apurada por C. Fraser a partir de dados do México, é que ela se baseava apenas em casos confirmados ou suspeitos. Como a maioria das pessoas que pega uma gripe não vai ao médico, o numerador fica subestimado, resultando em taxas exageradas.

Multiplicador
A dificuldade é uma velha conhecida de epidemiologistas, que se valem de várias estratégias para driblá-la. A mais simples delas é arbitrar um multiplicador para corrigir a subnotificação. Classicamente, considera-se que, nos EUA, ocorrem 2,3 casos de gripe sazonal para cada paciente que procura um médico. Em situações de pandemia, porém, esse número tende a subir bastante, pois as pessoas são aconselhadas a ficar em casa.
Baseando-se em estimativas de especialistas, pesquisadores determinaram um multiplicador que varia entre 10 e 30 e, aplicando-o a dados compilados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para um "pool" de países desenvolvidos, chegaram a taxas de letalidade que vão de 0,03% a 0,01%.
Nesse método, epidemiologistas usaram uma pesquisa telefônica feita pelo Departamento de Saúde de Nova York, segundo a qual, entre 1º e 20 de maio, 6,9% dos nova-iorquinos haviam tido sintomas de gripe. Àquela altura, 90% das amostras testadas eram do tipo H1N1. Considerando-se as 12 mortes registradas no período e a população da cidade, chegaram a uma taxa de letalidade que vai de 0,003% a 0,002%.

Mortalidade extra
Por aqui, os pesquisadores tomaram as taxas de hospitalização e morte de pessoas com menos de 65 anos (mais suscetíveis ao H1N1) nos EUA e no Canadá e descontaram os óbitos atribuíveis, pela série histórica, à gripe sazonal. Chegaram a uma letalidade para a H1N1 que vai de 0,06% a 0,004%.
Nessa metodologia, utilizaram-se os dados do Canadá, no pressuposto de que a epidemia ali se encontrava num estágio avançado e que as 21 mortes registradas até o dia 26 de junho não chegariam a dobrar durante essa primeira fase. Os valores apurados para a letalidade ficaram em torno de 0,003% e 0,0004%.


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