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Estudo sugere letalidade bem mais baixa
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Um novo estudo sugere
que a taxa de letalidade (número de mortes por pessoas
infectadas) da gripe A
(H1N1) em circulação é significativamente menor do
que o 0,4% que consta da literatura médica.
O artigo, assinado pelos
epidemiologistas neozelandeses Nick Wilson e Michael
Baker, foi publicado na revista "Eurosurveillance".
Usando quatro métodos
diferentes para calcular a letalidade, os pesquisadores
chegaram a valores que variam entre 0,06% e 0,0004%.
Se utilizarmos essas taxas
para estimar o número de
pessoas que já ficaram doentes no Brasil, teríamos, dadas
as 33 mortes registradas até
ontem, algo entre 55 mil e 8,3
milhões de pacientes. Pelo
0,4% de letalidade, o total de
gripados pelo novo vírus não
passaria de 8.250.
Cautela
A interpretação dos resultados exige cautela. Cada
uma das técnicas empregadas apresenta limitações, e
todas se baseiam em dados
preliminares da epidemia.
Ademais, o estudo pressupõe
sistemas de atendimento
médico de Primeiro Mundo.
O problema com a taxa de
0,4%, primeiramente apurada por C. Fraser a partir de
dados do México, é que ela se
baseava apenas em casos
confirmados ou suspeitos.
Como a maioria das pessoas
que pega uma gripe não vai
ao médico, o numerador fica
subestimado, resultando em
taxas exageradas.
Multiplicador
A dificuldade é uma velha
conhecida de epidemiologistas, que se valem de várias estratégias para driblá-la. A
mais simples delas é arbitrar
um multiplicador para corrigir a subnotificação. Classicamente, considera-se que,
nos EUA, ocorrem 2,3 casos
de gripe sazonal para cada
paciente que procura um
médico. Em situações de
pandemia, porém, esse número tende a subir bastante,
pois as pessoas são aconselhadas a ficar em casa.
Baseando-se em estimativas de especialistas, pesquisadores determinaram um
multiplicador que varia entre 10 e 30 e, aplicando-o a
dados compilados pela OMS
(Organização Mundial da
Saúde) para um "pool" de
países desenvolvidos, chegaram a taxas de letalidade que
vão de 0,03% a 0,01%.
Nesse método, epidemiologistas usaram uma pesquisa telefônica feita pelo Departamento de Saúde de Nova York, segundo a qual, entre 1º e 20 de maio, 6,9% dos
nova-iorquinos haviam tido
sintomas de gripe. Àquela altura, 90% das amostras testadas eram do tipo H1N1.
Considerando-se as 12 mortes registradas no período e a
população da cidade, chegaram a uma taxa de letalidade
que vai de 0,003% a 0,002%.
Mortalidade extra
Por aqui, os pesquisadores
tomaram as taxas de hospitalização e morte de pessoas
com menos de 65 anos (mais
suscetíveis ao H1N1) nos
EUA e no Canadá e descontaram os óbitos atribuíveis,
pela série histórica, à gripe
sazonal. Chegaram a uma letalidade para a H1N1 que vai
de 0,06% a 0,004%.
Nessa metodologia, utilizaram-se os dados do Canadá, no pressuposto de que a
epidemia ali se encontrava
num estágio avançado e que
as 21 mortes registradas até o
dia 26 de junho não chegariam a dobrar durante essa
primeira fase. Os valores
apurados para a letalidade ficaram em torno de 0,003% e
0,0004%.
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