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No Rio, 90% dos meninos de rua usam crack
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO
O Rio começa a ter de enfrentar um fantasma que ronda há
muito as ruas de São Paulo: o
fantasma do crack. "Proibida"
pelas facções armadas até o início da década, a droga se popularizou e hoje é vendida em cerca de 300 favelas cariocas, segundo a Secretaria de Assistência Social do município.
A prefeitura aponta que o uso
de crack por menores de 18
anos que vivem na rua e são
monitorados pela secretaria
era de 13% há quatro anos e
agora está em 90%. Mas a administração municipal e o governo estadual oferecem apenas 12 vagas para internação de
crianças (9 a 12 anos) e 40 para
adolescentes (12 a 18 anos).
Diante disso, governo e prefeitura lançaram nesta semana
um plano que propõe a construção de mais quatro unidades. "São Paulo nos serviu de
alerta. Temos feito um esforço
com Ministério Público e polícia para evitar que se consolide
um grande espaço de consumo
de crack", diz o secretário municipal Fernando William.
Segundo ele, a classe média
também já começa a consumir
o "zirré" (ou desiré, mistura de
crack com maconha).
A chegada do crack ao Rio teve "atraso" de uma década em
relação a São Paulo. Traficantes
impediram a entrada em grande escala devido ao alto potencial de mortalidade, que não
dava lucros por muito tempo.
A "epidemia" se consolidou
nos últimos dois anos. Em
2007, houve 720 apreensões no
Estado, ante 1.211 em 2008 e
805 só até maio deste ano.
Segundo Marcus Vinícius
Braga, da delegacia antidrogas,
o crack foi imposto por "venda
casada" ao Comando Vermelho
pela facção paulista PCC. "O
traficante falou que só venderia
cocaína [ao outro] se este também comprasse crack", diz.
O consumo ocorre sobretudo
nos acessos às favelas. "Os consumidores têm de sair das comunidades porque não respeitam nem a lei dos criminosos,
mas não podem se afastar porque precisam estar perto do
vendedor", explica o psiquiatra
Jairo Werner, da Uerj.
A moradora de um morro no
centro do Rio contou à Folha
que o filho de 17 anos chegou a
ser espancado duas vezes por
traficantes e passou uma semana desaparecido até voltar para
casa, ontem de manhã.
Ele era o 48º na fila de espera
por uma internação na clínica
de Barra Mansa (interior do
Rio). "Já pensei em dar queixa
na delegacia. Na prisão estaria
mais seguro do que na comunidade ou na rua", diz a mãe.
Na Casa Viva, única unidade
da prefeitura para internação
de crianças, em Vila Isabel (zona norte), vive Leila (nome fictício), 11, moradora da Ilha de
Guaratiba (zona oeste). Ela fugiu de casa com uma amiga. Para consumir drogas, a menina
fez programas com adultos.
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