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JUSTIÇA
Advogado envolvido em caso de furtos de processos em SP sacou dinheiro de conta judicial, cujos autos também sumiram
Máfia dos fóruns leva R$ 1 mi do Banespa
FLÁVIA DE LEON
DA REPORTAGEM LOCAL
O advogado José Alves de Brito
Filho, acusado de integrar a chamada "máfia dos fóruns", conseguiu sacar de uma conta judicial
na agência Liberdade do Banespa
R$ 1.046.424,54, apesar de não ser
representante legal das partes envolvidas no processo, que desapareceu da 27ª Vara Criminal.
"Máfia dos fóruns" é como ficou conhecido o grupo responsável pelo sumiço de processos de
fóruns paulistas. Brito Filho,
apontado como elo entre os funcionários que furtam os processos
e os interessados no desaparecimento, está foragido.
O dinheiro sacado por Brito Filho estava depositado em juízo
como garantia ao Banespa. Em
1991, o banco pediu abertura de
processo contra seu então funcionário Carlos Alberto Pezzi.
No mesmo ano, a Justiça determinou o sequestro dos bens de
Pezzi, e o dinheiro que ele tinha
aplicado em CDBs foi retido.
Pezzi trabalhou no Banespa por
21 anos. Quando o banco desconfiou que ele estava desviando recursos, Pezzi ocupava cargo de
gerência em uma agência.
A Folha obteve cópia do mandado de levantamento judicial
que permitiu o saque.
No verso do documento, anotado a mão, há a observação de que
o valor foi confirmado por uma
funcionária da 27ª Vara Criminal
e que o levantamento "encerra as
guias relacionadas, sobrando na
ata a guia 847094 para ser dividida
entre o perito, o Banespa e o réu".
A Justiça silencia quando questionada sobre o caso. O juiz que
autorizou o levantamento, Sérgio
Ribas, da 27ª Vara Criminal, é o
mesmo que denunciou à Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça ter recebido oferta de propina
de um colega magistrado para
acelerar o pagamento de ação.
Segundo a denúncia, deveriam
ser liberados R$ 600 mil, e o juiz,
caso aceitasse a oferta, ficaria com
10% do valor, ou R$ 60 mil.
Investigadores da Polícia Civil
que trabalham no caso da "máfia
dos fóruns" afirmam que é exatamente o processo do Banespa
contra seu ex-funcionário que
originou a oferta de propina.
O juiz teria pedido novo cálculo
a um perito. O valor seria os pouco mais de R$ 1 milhão sacados
pelo advogado foragido.
Ribas não quis falar sobre o caso. O corregedor-geral, desembargador Luís de Macedo, admitiu estar investigando caso de "levantamento enganoso em que a
vítima é o Banespa".
Em seguida, Macedo corrigiu-se: "Estamos verificando se o levantamento judicial foi irregular
ou enganoso e, em sendo um dos
dois, se houve crime". Como envolve juízes, o caso é tratado em
segredo de Justiça.
E há pontos obscuros na operação. Não é possível saber, por
exemplo, se o saque foi autorizado integralmente em favor de
Pezzi e por que o ex-funcionário
teria tanto dinheiro a receber.
Os investigadores consideram
que pode ter havido sobra de dinheiro entre a apropriação indébita e os bens sequestrados.
Em depoimento nas corregedorias do TJ e da polícia, Pezzi disse
não ter assinado procuração em
favor de Brito nem ter recebido
dinheiro da ação. Ele afirmou ter
como advogado Angelo Pio Mendes, que negou representá-lo.
As duas corregedorias investigam se Pezzi não está envolvido
diretamente no caso.
Depois que depôs na polícia,
Pezzi sumiu. A Folha o procurou
em São Paulo e em Campinas, onde disse trabalhar, durante três
dias. Ninguém foi localizado.
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