São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2000


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JUSTIÇA
Advogado envolvido em caso de furtos de processos em SP sacou dinheiro de conta judicial, cujos autos também sumiram
Máfia dos fóruns leva R$ 1 mi do Banespa

FLÁVIA DE LEON
DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado José Alves de Brito Filho, acusado de integrar a chamada "máfia dos fóruns", conseguiu sacar de uma conta judicial na agência Liberdade do Banespa R$ 1.046.424,54, apesar de não ser representante legal das partes envolvidas no processo, que desapareceu da 27ª Vara Criminal.
"Máfia dos fóruns" é como ficou conhecido o grupo responsável pelo sumiço de processos de fóruns paulistas. Brito Filho, apontado como elo entre os funcionários que furtam os processos e os interessados no desaparecimento, está foragido.
O dinheiro sacado por Brito Filho estava depositado em juízo como garantia ao Banespa. Em 1991, o banco pediu abertura de processo contra seu então funcionário Carlos Alberto Pezzi.
No mesmo ano, a Justiça determinou o sequestro dos bens de Pezzi, e o dinheiro que ele tinha aplicado em CDBs foi retido.
Pezzi trabalhou no Banespa por 21 anos. Quando o banco desconfiou que ele estava desviando recursos, Pezzi ocupava cargo de gerência em uma agência.
A Folha obteve cópia do mandado de levantamento judicial que permitiu o saque.
No verso do documento, anotado a mão, há a observação de que o valor foi confirmado por uma funcionária da 27ª Vara Criminal e que o levantamento "encerra as guias relacionadas, sobrando na ata a guia 847094 para ser dividida entre o perito, o Banespa e o réu".
A Justiça silencia quando questionada sobre o caso. O juiz que autorizou o levantamento, Sérgio Ribas, da 27ª Vara Criminal, é o mesmo que denunciou à Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça ter recebido oferta de propina de um colega magistrado para acelerar o pagamento de ação.
Segundo a denúncia, deveriam ser liberados R$ 600 mil, e o juiz, caso aceitasse a oferta, ficaria com 10% do valor, ou R$ 60 mil.
Investigadores da Polícia Civil que trabalham no caso da "máfia dos fóruns" afirmam que é exatamente o processo do Banespa contra seu ex-funcionário que originou a oferta de propina.
O juiz teria pedido novo cálculo a um perito. O valor seria os pouco mais de R$ 1 milhão sacados pelo advogado foragido.
Ribas não quis falar sobre o caso. O corregedor-geral, desembargador Luís de Macedo, admitiu estar investigando caso de "levantamento enganoso em que a vítima é o Banespa".
Em seguida, Macedo corrigiu-se: "Estamos verificando se o levantamento judicial foi irregular ou enganoso e, em sendo um dos dois, se houve crime". Como envolve juízes, o caso é tratado em segredo de Justiça.
E há pontos obscuros na operação. Não é possível saber, por exemplo, se o saque foi autorizado integralmente em favor de Pezzi e por que o ex-funcionário teria tanto dinheiro a receber.
Os investigadores consideram que pode ter havido sobra de dinheiro entre a apropriação indébita e os bens sequestrados.
Em depoimento nas corregedorias do TJ e da polícia, Pezzi disse não ter assinado procuração em favor de Brito nem ter recebido dinheiro da ação. Ele afirmou ter como advogado Angelo Pio Mendes, que negou representá-lo.
As duas corregedorias investigam se Pezzi não está envolvido diretamente no caso.
Depois que depôs na polícia, Pezzi sumiu. A Folha o procurou em São Paulo e em Campinas, onde disse trabalhar, durante três dias. Ninguém foi localizado.


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