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O OUTRO LADO DA RUA
Após entregar as fitas à polícia, há 3 meses, octogenária foi convencida a sair do imóvel onde morava
Aposentada está em programa de proteção
DA SUCURSAL DO RIO
A aposentada que desmantelou
o tráfico na ladeira dos Tabajaras,
na zona sul do Rio, foi incluída no
programa federal de proteção a
testemunhas e levada para fora da
cidade. Seu nome é preservado
pelas autoridades de segurança.
Ela entregou há três meses suas
fitas à polícia. Depois, teve que negociar a venda do apartamento
em que morava. De acordo com a
polícia, a maior dificuldade para
que fosse realizada uma operação
na favela para prender os traficantes foi a resistência da aposentada
em deixar seu apartamento.
"Somente quando a convencemos a deixar o imóvel e entrar no
programa de proteção à testemunha é que resolvemos desmantelar a quadrilha", disse a delegada
Monique Vidal, responsável pelas
investigações.
"Ela não se limitava a filmar.
Também jogava baldes d'água
nos traficantes, mandava que
saíssem dali", relata a delegada.
A polícia só agiu após o meticuloso trabalho de documentação
da aposentada. O secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, definiu
a ação da senhora de 80 anos como uma "vitória da sociedade".
"É uma forma de demonstrar que
cada cidadão pode ajudar de alguma forma a melhorar a segurança
pública na nossa cidade, no nosso
Estado, no nosso país."
Perfil
A aposentada nasceu no interior
de Alagoas em maio de 1925. Aos
13 anos, segundo conta, foi estuprada várias vezes pelo filho de
um fazendeiro. Engravidou.
Foram meses vagando sozinha
por casas de desconhecidos até ter
o bebê, numa cidadezinha de Alagoas. "Voltei para casa e minha
família me recebeu e cuidou de
mim. Minha mãe me levou até a
polícia e denunciamos o filho do
fazendeiro", contou ao jornal
"Extra", único que teve acesso a
ela antes que entrasse no programa de proteção a testemunhas.
A aposentada perdeu a filha.
"Durante toda a gravidez eu comi
mal e andei muito de uma cidade
para outra, tentando arrumar um
lugar para trabalhar. O problema
que ela teve no coração foi causado por isso. Minha filha era linda", disse ela.
Trabalhou como empregada
em Recife (PE) e depois no Rio,
onde voltou a estudar. "Cheguei
até a antiga sétima série. Depois,
fiz um curso de massoterapia."
Ela conseguiu financiar um
apartamento em Copacabana, em
1967. Foi nesse imóvel que morou
durante 38 anos e de onde filmou
as ações de traficantes.
Operação frustrada
Cerca de cem policiais realizaram ontem uma operação na ladeira para localizar o paiol do tráfico na área. Chegaram a usar detectores de metal do Exército em
busca de armas enterradas, mas
nenhuma foi encontrada.
A ladeira dos Tabajaras surgiu a
partir de um caminho usado por
d. Pedro 2º para encurtar o percurso entre o Jardim Botânico e a
região litorânea do Rio no século
19. O trecho recebeu esse nome
em homenagem aos índios tabajaras que, oriundos do Maranhão,
habitavam os morros de São João
e da Saudade, que são cortados
pela ladeira.
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