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EUA liberam pílula do dia seguinte sem prescrição médica
Decisão da FDA beneficia maiores de 18 anos; a receita médica continuará obrigatória para garotas até essa idade
Droga reduz a chance de gravidez se tomada até 72 horas após a relação sexual; no Brasil, oficialmente há necessidade de receita
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após três anos de polêmica, a
FDA (agência de controle de
alimentos e remédios dos EUA)
aprovou ontem a venda sem receita médica da pílula do dia seguinte a mulheres acima de 18
anos. Mulheres com menos de
18 anos precisam da prescrição.
No Brasil, a pílula é vendida
desde 2000. Oficialmente, há
necessidade da receita para
qualquer idade, mas as farmácias costumam vender o remédio sem a exigência. Em 2004, o
Ministério da Saúde passou a
distribuir a pílula na rede pública de saúde. O parecer médico é obrigatório.
A droga reduz em 90% as
chances de gravidez quando ingerida dentro de 72 horas após
a relação sexual. As altas taxas
de hormônios do remédio impedem a ovulação e, se o óvulo
já estiver fecundado, não há implantação do embrião.
O contraceptivo de emergência foi autorizado em 1999 nos
EUA, onde é comercializado
pelo laboratórios Barr. Até agora, a pílula só podia ser comprada com receita. Em 2003, uma
comissão da FDA recomendou
a possibilidade de compra sem
receita, mas a agência se recusou a aprová-la diante dos protestos dos grupos religiosos,
contrários ao aborto.
A Conferência de Bispos Católicos, por exemplo, argumenta que a pílula, seja para adultos
ou menores de idade, causa
aborto ao impedir a implantação do óvulo fecundado na parede do útero.
Para Deirdre McQuade, do
setor de atividades Pró-Vida na
conferência episcopal americana, a venda da pílula nas farmácias pode fazer com que muitas
mulheres a usem sem supervisão médica e sem um conhecimento pleno de seus efeitos.
Sem receita
Os grupos favoráveis à venda
sem receita da pílula argumentam que a medida poderia reduzir à metade as 3 milhões de
gravidezes indesejadas que
ocorrem a cada ano nos EUA.
Para Gilberta Santos Soares,
coordenadora das Jornadas
Brasileiras pelo Aborto Legal e
Seguro, a pílula de emergência
deveria ser liberada a meninas
acima de 15 anos, fase em que
muitas iniciam a vida sexual. "É
uma idade em que as jovens
não têm informações nem recursos", diz ela, que participava
ontem de um seminário em Belo Horizonte sobre morte materna. "Soubemos que três meninas morreram depois de tentar fazer aborto com talo de
mamona e agulha de crochê."
O ginecologista Jorge Andalaft Neto, presidente da comissão nacional especializada em
violência sexual e interrupção
da gravidez da Febrasgo (federação que reúne as sociedades
de ginecologia e obstetrícia),
afirma que é erro dizer que a pílula é abortiva, uma vez que age
antes do desenvolvimento do
embrião. Assim como Gilberta
Soares, ele entende que a pílula
pode prevenir futuros abortos e
deveria ser vendida sem receita
a menores de 18 anos.
"Como nós, os EUA têm um
grande número de gravidezes
na adolescência. As meninas
abaixo de 18 anos são as que
mais sofrem o risco de uma gravidez indesejada. Não faz sentido dificultar a contracepção de
emergência para esse grupo."
O representante da FDA, Andrew C. von Eschenbach, afirma que a agência fixou idade de
18 anos ou mais para a venda da
pílula do dia seguinte sem receita porque as farmácias já
restringem a venda de certos
medicamentos (contra tabagismo, por exemplo) a pessoas
menores de idade.
Com agências internacionais)
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