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Em 2007, gasto com saúde no NE é o maior do país
A região passou da penúltima para a primeira posição em repasses federais
No ano em que o Nordeste enfrenta uma grave crise no setor, o Ministério da Saúde deve gastar R$ 174,96
por habitante da região
THIAGO REIS
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
No mesmo ano em que a crise
da saúde pública estourou no
Nordeste, a região passou da
penúltima para a primeira posição em repasses federais por
habitante no setor. O Ministério da Saúde deve gastar, em
2007, R$ 174,96 por pessoa na
região. No ano passado, eram
destinados R$ 154,88 a cada habitante -menos que no Sul, no
Sudeste e no Centro-Oeste.
Essa será a primeira vez durante o governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
que o Nordeste vai deixar de
ocupar a penúltima colocação
na tabela de investimentos. Antes, ficava apenas à frente do
Norte, que ainda está na última
colocação.
Para o especialista em economia da saúde Bernard Couttolenc, da Faculdade de Saúde
Pública da USP, essa mudança
"é positiva", mas insuficiente.
"Para ter um efeito na qualidade leva um tempo. A atual
crise vem de anos, décadas",
afirma o pesquisador, co-autor
de um estudo para o Banco
Mundial sobre a gestão do SUS
(Sistema Único de Saúde).
Segundo Couttolenc, persistem problemas na gestão estadual dos recursos vindos da
União. Um deles, diz, "é a falta
de transparência e de regras
claras na alocação dos recursos", o que torna a distribuição
do dinheiro mais sensível a
"pressões políticas" e ao lobby
de empresas.
Para ele, o Nordeste pode ter
essa situação agravada, já que a
região tem "as instituições democráticas menos consolidadas e mecanismos decisórios
menos desenvolvidos". "Mas
essa distorção acontece em São
Paulo também."
O professor Marcos Kisil,
também da USP, cita a não-profissionalização dos gestores
dos hospitais como outro fator
de má administração dos recursos federais. "[O gestor] pode ser um excepcional profissional na sua especialidade médica e virar um diretor de hospital, mas ele não é um profissional de administração."
A média nacional per capita
ficou em R$ 170,09. O Estado
que mais irá receber por pessoa
é Roraima: R$ 259,15. O Distrito Federal ficou na ponta de
baixo, com R$ 138,02.
Complexidade
Couttolenc e Kisil afirmam
que uma das explicações para o
histórico baixo repasse é o fato
de os serviços médicos de média e alta complexidade, que
são mais caros, estarem concentrados no Sudeste e no Sul.
Dados do Conass (Conselho
Nacional de Secretários da Saúde) mostram que o habitante
do Nordeste recebe R$ 87,52
quando são levados em conta
apenas esses tipos de repasse
-menos que o Sul, o Sudeste e
o Centro-Oeste. A média nacional per capita é de R$ 98,09.
"O SUS gasta boa parte dos
recursos em tratamentos de alta e média complexidade, que
beneficiam um número pequeno de indivíduos, em detrimento de ações de saúde coletiva,
que beneficiam grandes grupos
da população", diz Couttolenc.
Segundo ele, essa opção faz
com que os recursos tendam a
ser alocados levando-se em
conta a rede já instalada, o que
favorece os Estados do Sudeste.
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