São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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SAÚDE

Pílula com efeito prolongado e o uso do Viagra em mulheres estão entre as novidades; médicos temem uso "recreacional" de substância

Mercado da impotência ganha novas drogas

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um comprimido para ereção que dura "o final de semana inteiro", novas opções de drogas para "meio período" -que agem até oito horas-, e um "Viagra cor-de-rosa" para mulheres com dificuldade para se excitar.
Essas são algumas das notícias anunciadas no 10º congresso mundial da Issir, a Sociedade Internacional para Pesquisa em Sexo e Impotência, que acontece em Montreal, no Canadá.
As novas drogas para a ereção devem chegar às farmácias no próximo ano. O Cialis, nome comercial da substância tadalafil, está sendo lançado pelo laboratório Eli Lilly. Os estudos apresentados em Montreal mostram que em 60% dos homens a droga manteve seu efeito depois de 24 e 36 horas da ingestão. Nas primeiras horas, a eficácia ficaria em 80%.
A outra novidade é o Levitra (vardenafil), lançamento conjunto dos laboratórios Bayer e GlaxoSmithKline, anunciado ontem no congresso da Issir com a promessa de maior eficácia e rapidez.
O Viagra (sildenafil), lançado em 1998 pela Pfizer como a primeira droga oral para disfunção erétil, é hoje o medicamento que mais fatura. Estima-se que, a cada segundo, quatro comprimidos sejam vendidos no mundo.
As três drogas têm o mesmo mecanismo de ação: inibem uma enzima (fosforodiesterase-5), facilitando a ereção. Como a ereção depende de um estímulo sexual, as drogas só agem quando a pessoa está excitada.
Assim, se uma pessoa toma o comprimido e, por exemplo, é convocada para uma reunião no trabalho, a ereção não necessariamente ocorrerá. No caso do Cialis, esse efeito chega a perdurar por um período de até 36 horas, o que permitiria mais de uma relação com o mesmo comprimido, desde que haja desejo e estímulo. O preço do Viagra varia de R$ 15 a R$ 30 o comprimido, dependendo da dosagem. As outras drogas ainda não têm preço definido.
"A grande vantagem das novas opções é poder oferecer a droga adequada a cada grupo específico de paciente", diz Celso Gromatzky, da Faculdade de Medicina da USP e do Prosex, Projeto de Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
Viagra, Cialis e Levitra não devem ser tomados por pacientes que fazem uso de drogas que contenham nitrato-geralmente usadas em tratamento para cardíacos. Nesse caso, o paciente substitui o nitrato ou opta pelo Uprima, medicamento da Abbott que tem outro mecanismo de ação.

"Uso recreacional"
Mesmo com os novos concorrentes anunciados -e outros ainda não revelados- o mercado da ereção ainda tem espaço de sobra.
Estudos no Brasil e no exterior mostram que apenas um em cada dez homens com disfunção erétil está sendo tratado. E que cerca de 50% dos homens entre 40 e 70 têm esse tipo de disfunção. A disfunção erétil se caracteriza por uma incapacidade persistente para obter e manter uma ereção adequada para uma relação sexual.
Como o Viagra é vendido livremente nas farmácias (os demais ainda aguardam aprovação nos EUA e no Brasil), acredita-se que ele possa estar sendo tomado por quem não precisaria usá-lo.
"A idade média do consumidor do Viagra caiu de 50 para 35 anos", afirma Sidney Glina, urologista do Instituto H. Ellis e que nesta quarta-feira está deixando a presidência da Issir.
Como não há pesquisas sobre o perfil do usuário do Viagra, a avaliação depende da observação em consultórios e clínicas. "A maioria dos pacientes que precisam ainda não está se beneficiando dessas drogas", diz Glina.
O "uso recreacional", do jovem de 20 anos que experimenta na noitada do sábado, preocupa somente na medida em que pode criar nele uma dependência psíquica. "Em alguns casos, o jovem poderá estar se valendo do remédio para tentar resolver outro problema", afirma Gromatzky.
Em boa parte dos casos, no entanto, os pacientes são adultos entre 35 e 45 anos que desejam melhorar a qualidade de suas relações. "Eles só querem transar mais e melhor e não há nenhuma contra-indicação para isso", diz Luiz Otávio Torres, da Sociedade Brasileira de Urologia.
Como são drogas novas, não há ainda estudos sobre possíveis efeitos colaterais do uso contínuo e ao longo de vários anos. A sugestão dos especialistas é que o paciente seja acompanhado por um médico ao usar essas drogas.


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