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Câmara de SP anula concurso sob suspeita
110.097 pessoas realizaram a prova, em 22 de julho; Legislativo alegou, em nota, a possibilidade de "quebra de sigilo", mas depois recuou
Vunesp terá de refazer o exame; Ministério Público investiga se parentes e estagiária da Imesp foram beneficiados em concurso
EVANDRO SPINELLI
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Câmara Municipal de São
Paulo anulou ontem o concurso público para a contratação
de 197 pessoas para 32 cargos
com salários que variam de R$
755,66 a R$ 5.137,57. Inscreveram-se para a prova, feita em
22 de julho, 110.097 pessoas.
A Câmara aponta irregularidades supostamente cometidas
pela Vunesp (Fundação para o
Vestibular da Unesp), contratada para realizar a prova. Chega
a falar em quebra de sigilo.
Em uma primeira nota oficial, emitida às 15h, a Mesa da
Câmara afirmava que sindicância interna da Vunesp concluíra que a impressão das provas,
feita pela Imesp (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo),
"pode ter se tornado vulnerável
quanto ao seu sigilo".
Em nova versão da nota oficial, enviada às 19h15, a Câmara
retirou a referência à Imesp. A
justificativa para anular a prova
passou a ser o fato de a Vunesp
ter subcontratado a impressão
das provas -o que não estava
previsto no contrato.
A suspeita de irregularidade
no concurso surgiu após candidatos terem descoberto que,
dos sete primeiros colocados
para o cargo de técnico administrativo, quatro têm relações
de parentesco, sendo que três
têm o mesmo sobrenome
-Borghi. Também foi apontado que uma dessas pessoas seria estagiária da Imesp.
Para esse cargo, foram abertas 104 vagas e se inscreveram
63.856 pessoas.
Sindicância interna da Vunesp não constatou fraude no
processo. A fundação diz que
até agora só constatou que a
máquina que fazia a impressão
parou para a troca da bobina de
papel, o que teria atrasado a
confecção do material.
O Ministério Público Estadual também apura o caso.
O primeiro-secretário da Câmara, José Américo (PT), disse
que a suspeita envolvendo a
disputa pelo cargo de técnico
administrativo compromete
todo o processo. "Para ficar um
concurso tão importante para
nós sob suspeita, preferimos
fazer isso [anular a prova]."
Ele disse não acreditar em
má-fé da Vunesp, mas afirmou
que a Câmara "deu bastante
tempo" para a fundação "tomar
as atitudes que deveria tomar".
Além de anular o concurso, a
Câmara determinou à Vunesp
que realize novamente a prova
sem cobrar nada e multou a
fundação em 15% de tudo o que
ela arrecadou. A multa foi aplicada por suposta quebra do
contrato que, de acordo com a
Câmara, não permitia a subcontratação da impressão.
Nem a Câmara nem a Vunesp confirmam, mas a Folha
apurou que a fundação arrecadou cerca de R$ 3,8 milhões. O
valor é referente às taxas de
inscrições pagas pelos candidatos -R$ 21, R$ 31 ou R$ 51, dependendo do cargo.
A Vunesp informou que irá
aplicar de novo a prova. Ainda
não há data para o novo concurso, do qual só poderão participar os candidatos já inscritos.
Ainda não está definido se
quem não quiser refazer a prova terá o direito de receber o dinheiro da inscrição de volta.
Além dos "Diário Oficiais" do
Estado e do município, a Imesp
tradicionalmente é responsável também pela impressão dos
vestibulares da USP, Unesp e
Unicamp, entre outros.
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