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Cabral apóia aborto e diz que favela é fábrica de marginal
Para o governador do Rio, interrupção da gravidez está relacionada à redução da violência
Para ele, rede pública teria de oferecer condições, já que mulheres de melhor poder aquisitivo acabam pagando por procedimento
Daniel Munoz - 23.mar.07/Reuters
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Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, que defendeu o aborto |
DA SUCURSAL DO RIO
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho
(PMDB), pai de cinco filhos, defendeu ontem a legalização do
aborto como forma de conter a
violência no Estado e afirmou
que as taxas de fertilidade de
mães faveladas são uma "fábrica de produzir marginal".
Segundo o governador, 44,
existem "dois brasis", um de
padrão de países nórdicos, como a Suécia, e outro com nível
de pobreza comparável a países
miseráveis africanos.
"Não tenho a menor dúvida
de que o aborto [como política
pública] pode conter a violência. Eu particularmente não
sou a favor do aborto", declarou
ontem em encontro de agentes
de viagem na Barra da Tijuca.
De acordo com Cabral, parte
das mães moradoras de áreas
carentes "estão produzindo
crianças, sem estrutura, sem
conforto familiar e material".
Ele disse lamentar o fato de essas mulheres não receberem
"orientação do governo em
questões de planejamento familiar" dos órgãos de saúde.
Em entrevista levada ao ar
ontem pelo site G1, o governador havia dito: "A questão da
interrupção da gravidez tem
tudo a ver com a violência.
Quem diz isso não sou eu, são
os autores do livro "Freakonomics" [Steven Levitt e Stephen
J. Dubner]. Eles mostram que a
redução da violência nos EUA
na década de 90 está intrinsecamente ligada à legalização do
aborto em 1975 pela Suprema
Corte", citou [na verdade, foi
em 1973].
"Sou favorável ao direito da
mulher de interromper uma
gravidez indesejada. Sou cristão, católico, mas que visão é
essa? Esses atrasos são muito
graves. Não vejo a classe política discutir isso. Fico muito aflito. Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo
de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão
Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal. O
Estado não dá conta. Não tem
oferta da rede pública para que
essas meninas possam interromper a gravidez. Isso é uma
maluquice só", afirmou ao site.
Questionado à tarde pela Folha se mulher de alto poder
aquisitivo não dá à luz a filho
marginal, ele respondeu, irritado, que não é uma questão de
"mãe rica ou mãe pobre".
"A mulher tem o direito de
interromper uma gravidez indesejada. É assim em Portugal,
na Espanha, no Japão e nos Estados Unidos. Por que não pode
ser assim no Brasil?", indagou o
governador peemedebista.
Segundo Cabral, a mulher de
classe média vai a uma clínica
de aborto ilegal que "todo mundo sabe onde fica" e faz um
aborto "relativamente seguro".
Já as "meninas da favela vão
para onde?" "Vamos parar com
hipocrisia. Temos de oferecer
oportunidade de a rede de saúde pública dispor de qualidade
para interromper a gravidez."
Questionado mais uma vez se
a prática do aborto ajudaria a
conter a violência, Cabral optou por uma resposta mais
abrangente. "Está tudo dentro
de um conjunto de ações."
"Quis dizer que este ponto do
aborto é um desrespeito às mulheres. Cerca de 200 mil procuram a rede pública para tratarem de problemas relacionados aos abortos mal feitos. Oficiosamente, o número chega a 1
milhão anualmente no país."
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