|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Milícias de policiais ganham mais espaço
Expansão de grupos, que já controlam cerca de 200 áreas pobres da cidade, depende também da exploração de serviços
Fonte de renda também
está na extorsão; ocupação
paramilitar de território
distingue o crime carioca do
de outras cidades do país
DA SUCURSAL DO RIO
Outro sinal da mudança no
padrão histórico de atuação das
facções do tráfico no Rio de Janeiro é a perda de espaço para
as milícias de policiais e ex-policiais, que se expandiram nesta
década.
São cerca de 200 áreas pobres, incluindo favelas, dominadas por milícias, segundo a
Draco (Delegacia de Repressão
ao Crime Organizado), e 328 favelas (de 968) ocupadas pelo
tráfico, conforme estimativa
feita há dois anos pela Secretaria de Segurança do Estado.
A fonte de renda das milícias,
além da extorsão em troca de
"proteção", são também os serviços, o que demonstra a lucratividade da ocupação paramilitar de território, que distingue
o crime carioca do de outras cidades brasileiras.
O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu
a CPI das Milícias, afirma que
em Rio das Pedras (Jacarepaguá, zona oeste) milicianos faturam US$ 170 mil por dia com
as cooperativas de van.
"A cultura da territorialidade
virou problema maior no Rio
do que a droga em si", diz Silvia
Ramos, da Universidade Candido Mendes.
Michel Misse, da UFRJ, vê a
entrada do crack como um indicador de desorganização do
tráfico. Mas Luis Flávio Sapori,
professor da PUC de Minas, secretário-adjunto de Segurança
do Estado entre 2003 e 2007,
prevê que, num volume alto, a
droga pode vir a ser tão lucrativa quanto a cocaína.
Para Sapori, o provável é que
o crack tenha entrado no Rio
por meio de São Paulo. Ele não
considera "muito esclarecida"
a aliança entre CV e PCC (Primeiro Comando da Capital),
embora no Rio diga-se que a
facção paulista faz "venda casada" de armas e droga.
O professor diz que a "oligopolização" do tráfico no Rio facilita o domínio territorial, em
contraste com a fragmentação
que existe em Belo Horizonte e
Recife, ou o monopólio do PCC
em São Paulo.
É improvável que as quadrilhas do Rio comprem diretamente de fornecedor no exterior. Há intermediários, diz Sapori. "A turma do CV, da ADA, é
do varejo. A cocaína que vem de
fora ainda é a pasta base. É preciso alguém com capital para
transformá-la em pó, em laboratórios clandestinos. Esse atacadista pode vender para vários
varejistas."
O CV ainda é a mais poderosa
e hierarquizada facção do Rio.
Seus principais líderes estão na
cadeia há anos e continuam
sendo ouvidos pelos comparsas
soltos. Há nesse comportamento dois componentes importantes: a tradição da obediência e o pragmatismo de todo traficante que sabe que um
dia vai parar na prisão.
"Dentro da cadeia, ele vai encontrar aquele que vai lhe estender a mão ou prejudicá-lo",
disse à Folha, em 2007, o ex-presidiário Paulo César Chaves, o PC.
Hoje muito doente, PC é remanescente do grupo que criou
o CV, no presídio da Ilha Grande. Na cadeia, conviveu com os
chefes atuais do CV. "Os líderes
da atualidade são pessoas sem
nenhuma consciência, só têm a
mentalidade do mal. São doentes mentais, pessoas completamente alienadas."
Texto Anterior: Tráfico de drogas disputa mercado em morros no Rio Próximo Texto: Para PF, em SP, monopólio das drogas é do PCC Índice
|