|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEGURANÇA
Só 2,4% das unidades abrem 24 horas por dia, apesar de os casos de violência geralmente ocorrerem à noite
Estudo aponta falhas em delegacia da mulher
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quase 20 anos depois de o Brasil
instalar de forma inédita as delegacias especializadas de atendimento à mulher, as 289 unidades
em funcionamento no país adotam mais um tom de conciliação e
aconselhamento do que de investigação policial e produção de
provas. Este é o diagnóstico da
pesquisa da Secretaria Nacional
de Segurança Pública (Senasp).
O levantamento, que será divulgado hoje, contabiliza um total de
425.935 ocorrências registradas
no ano passado. As mais comuns
foram ameaças, lesões corporais,
injúria, calúnia, difamação e perturbação da ordem. O Ministério
da Justiça deve investir R$ 2,5 milhões para reequipar as unidades
e treinar os policiais. "A pesquisa
retrata o pouco olhar da política
em relação aos crimes contra a
mulher. Isso não pode ser uma
política pública marginal. Tem
que estar integrada no bojo das
polícias especializadas", disse Rita
de Cássia Andréa, coordenadora
de Ensino da Senasp.
A precariedade das delegacias
fica exposta em números e pleitos
dos delegados responsáveis. Alguns exemplos: 28% não têm algemas, 53,3% não possuem coletes a prova de balas, 38,4% não têm revólver e 22,6% não têm sequer um carro de polícia. O Ministério da Justiça encaminhou questionários a todas as delegacias e postos móveis nos Estados.
O atendimento ao público é outra questão delicada. A violência
contra a mulher, geralmente, é
praticada pelo cônjuge, à noite,
dentro de casa. Mesmo com esse
contexto, apenas 2,4% das delegacias especializadas funcionam 24
horas por dia e 76% não têm plantão aos finais de semana.
O curioso é que as primeiras delegacias desse tipo funcionavam
24 horas e recebiam a colaboração
da sociedade civil. As primeiras
unidades foram criadas sob pressão do movimento feminista em
1985 em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Com o passar do tempo, e a menor pressão social, o horário de funcionamento foi sendo reduzido.
"O universo da segurança e o aparato policial não vêem o crime
contra a mulher em pé de igualdade com o crime contra qualquer
pessoa. O fato criminal vem sendo pouco apurado. É preciso levantar o ciclo completo do crime", disse Andréa.
A infra-estrutura das delegacias
também é questionável: 75,2%
das unidades não têm sala de assistência social, em 67,9% faltam
salas de assistência psicológica e
em 30,5% não há espaço separado
para a triagem das vítimas. O primeiro contato nestes casos é importante para que a mulher seja
informada de seus direitos e de
eventuais crimes de que é vítima.
Descaso
Segundo Marcelo Durante,
coordenador-geral de Pesquisa da
Senasp, os governos e as polícias
Civis nos Estados dão pouca importância para as delegacias de
atendimento à mulher. Isso se reflete na alta rotatividade de policiais nas unidades e ausência de
planejamento. "Falta cultura para
planejar as ações com base nas informações coletadas. Os policiais
estão indo para a rua sem saber o
que vão encontrar. É preciso valorizar a informação como ferramenta de polícia", disse Durante.
Em números
75,4% dos delegados responsáveis pelas unidades especializadas
disseram não conhecer instituições voltadas para o atendimento
à mulher vítima de violência nos
Estados em que trabalham. Em
67,4% das delegacias os profissionais não fizeram nenhum curso
de capacitação no ano passado.
Texto Anterior: Aids: Gay usa mais camisinha que heterossexual Próximo Texto: Em SP, só uma unidade abre à noite Índice
|